Diplomacia
A União Europeia é uma potência não convencional. Criada sobre os escombros da devastadora segunda guerra mundial, desenvolveu uma estratégia de defesa e segurança baseada sobretudo na cooperação e na interdependência para garantir com sucesso a paz interna, e na participação na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN - NATO) para assegurar a sua proteção contra os inimigos externos.
Os fundamentos para a paz interna estão mais atuais do que nunca. No plano externo, a reconfiguração geoestratégica que está a ocorrer no mundo coloca cada vez mais desafios de difícil resolução. A União Europeia tem que reforçar a sua União para a Defesa e a Segurança e ao mesmo tempo aprimorar a capacidade de usar os argumentos políticos e económicos como instrumentos de poder global.
O recente episódio de desvio pela Bielorrússia de um avião comercial que fazia um trajeto entre duas capitais europeias, para deter um jornalista dissidente, constitui uma prova de fogo para testar os limites que uma capacidade diplomática reforçada tem, quando é necessário responder a ameaças de segurança e de respeito pelos valores e princípios que dão corpo ao projeto europeu. Ameaças consumadas, como foi o caso,com a conivência de uma grande potencia continental como é a Rússia.
Depois de uma resposta titubeante e pouco assertiva da Comissão Europeia, o Conselho Europeu aprovou um pacote de medidas gerais, a detalhar pelos serviços de ação externa da Comissão, que se devidamente aplicado tem poder mais do que simbólico. É fundamental que a sua afinação penalize as elites decisoras, em particular o ditador Lukashenko e os seus apaniguados, sem ferir a emergente sociedade civil, que depois da fraude eleitoral que voltou a ocorrer no ano transato, se tem vindo a afirmar contra o regime.
Não tenho dúvidas que os desafios do mundo em que vivemos exigem que a União Europeia reforce a sua aliança de segurança em defesa muito para além da dimensão diplomática, preparando o bloco também para as novas guerras travadas a partir do ciberespaço. Mas a diplomacia será sempre uma arma fundamental. Uma arma que à minha dimensão também procuro exercitar nas minhas funções de Copresidente da Assembleia Parlamentar Paritária ACP-UE.
Também aí, respeitando a soberania, a chave fundamental é conseguir que as sociedades civis valorizam modelos de democracia e estado de direito favoráveis à paz e à cooperação e os consigam progressivamente impor. Não é tarefa fácil, mas é a especialidade da União Europeia. A sua arma de diferenciação geopolítica.