Empatia
Li recentemente, em mais uma longa viagem de avião, um livro simples e despretensioso intitulado “Uma Pequena História do Mundo” escrito em 1935 por E.H. Gombrich e editado em Portugal como livro de bolso pela Tinta da China.
Percorrer a história do mundo em pouco mais de 300 páginas, mesmo que em letra miudinha, é um exercício que nos reaviva a noção de que somos apenas protagonistas ocasionais de uma cena efémera, encrustada num filme cheio de ação e com um enredo imprevisível. Se esse momento fugaz e espremido pelo tempo é um espaço eterno noutras dimensões é um tema que o livro não aborda nem eu o pretendo fazer nesta crónica.
Ao longo da História construímos e destruímos civilizações. Os ciclos de construção e destruição foram-se encurtando. A prevalência das luzes e das trevas foi-se alternando no espírito dos Homens. A empatia ou a barbárie vingaram na modulação da forma como se foram estabelecendo as relações de poder e as estratégias de sobrevivência.
Sem esquecer a Ucrânia, o Iémen e outras feridas do momento, tenho estado, em consequência da minha função de copresidente da Assembleia Parlamentar Paritária África, Caraíbas, Pacífico / União Europeia e mais recentemente de Relator Permanente do Parlamento Europeu para a Ajuda Humanitária, particularmente envolvido na propagação brutal dos conflitos em África, em particular no Corno de África, na Região dos Grandes Lagos e no Sahel.
O rebentamento de uma guerra civil no Sudão, com impactos catastróficos para os povos da Região recordou-me a minha recente visita em missão àquele País e as reuniões mantidas em Cartum com as forças em presença. Ficou clara para mim desde o primeiro momento que a milenar tensão entre empatia e luta pelo poder era a carta que marcava o jogo.
Dias antes, em Adis Abeba, capital de uma Etiópia também em conflito, tinha arriscado perguntar numa reunião com as múltiplas forças em conflito, quais defendiam a paz e quais achavam que só a guerra era solução, cruzando a pergunta com uma questão sobre os seus valores e ideias politicas estruturantes.
Naquela breve amostra conclui quem era pela guerra tinha valores definidos em torno do princípio da supremacia do seu povo ou tribo. Aqueles que eram pela paz tinhamuma visão empática e holística sobre um destino comum para todos.
Quando escrevo estas linhas há sinais de que a empatia pode estar a estabilizar a Etiópia, mas que soçobrou no Sudão. Quando a empatia soçobra, as pessoas, em particular as mais pobres, expostas e vulneráveis, pagam a conta. Foi sempre assim na história do mundo. Já era tempo de termos aprendido a lição.