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Ben(di)to Sejas



 

O acto de resignação de Bento XVI têm uma dimensão de humanidade e não sacralização que desafia e quase impele os cristãos a refletir sobre ele e a atrever-se a ir para além da fé. É o risco que assumo nesta coluna. Sei que arrisco a blasfémia, mas escreverei com o coração. Espero assim ser perdoado, salvo das fogueiras das novas inquisições e até compreendido pelos que em liberdade não acreditam.

 

Já opinei algumas vezes nesta coluna que a Igreja do século XXI precisa de dar novo sentido ao indivíduo enquanto dono do seu destino. Bento XVI devolveu às pessoas a autonomia na sua relação com o Divino.   

 

Apanhado de surpresa, também eu hesitei na leitura da atitude de Ratzinger. Não sendo um apreciador da sua agenda conservadora em relação aos costumes, aprendi ao ler os seus livros e em particular a sua riquíssima “Cristologia” a respeitar o intelectual e o ser íntegro e iluminado que foi chamado ao lugar de Pedro no alvor do milénio.

 

Não faltarão agora teorias conspirativas sobre a decisão de Bento XVI, relacionando a sua resignação com os escândalos de pedofilia, de lavagem de dinheiro e de influências que gangrenam o funcionamento do Vaticano.

 

 Não acredito, que por mais fortes que tenham sido essas pressões, que fossem elas a conduzir à resignação do Papa. Suspeito e entendo que Bento XVI quis dar um novo e mais denso sentido ao conceito de livre arbítrio.

 

Com a sua atitude Bento XVI diz-nos que não é Ele que decide quando partimos ou o que fazemos enquanto estamos na terra. Por sua vontade, nós somos dignos de ter a chama dentro de nós e de fazer dela o fogo ou o gelo. Somos nós os protagonistas da nossa existência e que decidimos o seu sentido, a sua densidade, a sua coerência e até a sua conexão ao que está para além do tempo e do espaço.

 

Bento XVI não tomou uma decisão pessoal cómoda, mas sobretudo mexeu com a sua decisão com a vida de todos os que acreditam que existe uma força suprema que dá sentido à existência. Descolou esse caminho coletivo da vontade individual.

 

 Cada ser é uma parte do todo mas também um determinante da sua evolução. Da velocidade com que, inspirados em Teillard de Chardin, partimos do alfa carnal para atingirmos a verdade libertadora e o ómega transcendente.

 

Bento XVI, santidade suprema. Demorei uns dias antes de te louvar ou te esquecer com um hiato ou um imprevisto na nossa caminhada coletiva para o Eu Universal. Sinto agora mais forte que nunca o sentido e a dimensão do teu acto de coragem. Eu que não saudei a tua chegada, esperando que estava (e estou) por um Papa mais próximo do povo e da sua libertação das tiranias morais ou políticas, saúdo com humildade a tua partida. Bendito Sejas Benedito.

 

 

 

 

 

 

 

 

        

 

 
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