Em Passo de Corrida
2013/08/15 14:34
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
| Link permanente
Dizem que correr se tornou uma moda. Eu sempre pratiquei desporto com
muita intensidade. Só no Futsal (nome moderno do velhinho Futebol de Salão) e
nas corridas de médio e longo curso consegui alguns resultados acima da média.
Mas sempre fui um atleta empenhado, esforçado e sobretudo feliz na prática das
mais diversas modalidades.
Hoje continuo a não dispensar uma oportunidade de praticar com os meus
amigos, desportos de conjunto, em particular uma boa peladinha. Os tempos para
a bicicleta de todo o terreno e para esquiar são cada vez menos. Como
consequência de tudo isto, corro sozinho cada vez mais. São uma espécie de
peregrinações em passo de corrida através de mim e daquilo que me rodeia.
Nessas “peregrinações” procuro escolher percursos em que possa desfrutar
da paisagem e se possível de alguma passagem simbólica por pontos ou locais
onde a densidade energética é mais forte. Capelas, ermitérios, pracetas
históricas, monumentos, recantos naturais de especial encanto.
Escrevo este texto a 15 de Agosto. É dia de Nossa Senhora e eu
peregrinei até à capelinha de Nossa Senhora de Entre-Águas que fica em Válega a
pouco mais de 5 km da casa de familiares em que me encontro.
Na primeira parte do percurso, ligeiramente a descer, desfrutei um
enorme prazer físico. Sentir os músculos a cooperar, o ritmo cardíaco como um
relógio, os pulmões cumprindo o seu papel de renovação do oxigénio, corpo e
espírito em plena comunhão com a natureza.
Ao passar junto à capela e ao circundá-la abstraí o corpo para me
entregar ao simbolismo do momento e depois no regresso, já com algum esforço
foi a vontade que ordenou ao corpo que tinha que resistir, que era possível
cumprir o plano, que a recompensa dum bom duche frio e dumas horas de bem-estar
repousado compensavam bem o suplemento de energia que lhe era pedido para
finalizar os pouco mais de 10km do percurso.
É assim a existência. Umas vezes levados pelo prazer do corpo e outras
pelas motivações do espírito, o que importa é que o todo nos permita atingir
patamares de serenidade e complementaridade entre nós, o nosso trajecto de vida
e o mundo que nos rodeia.
A corrida tornou-se uma moda e eu que já corria há muitos anos estou
agora em plena onda?
Pergunto-me o porquê desta moda. É barata, é boa, sabe bem. É uma
meditação do século XXI. Uma forma de estarmos em nós dando-nos à natureza.
Corpo e alma. Músculos e vontade. Em
passo de corrida.
Comentários