Fragmentação
2011/07/23 23:02
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O duplo atentado ocorrido na Noruega em 22 de Julho, além de um acontecimento tenebroso é um enorme desafio à nossa sociedade para reflectir sobre ela própria e sobre os caminhos que está a trilhar.
Eu sei que tudo pode ser relativizado e que diariamente morrem nas estradas mais pessoas do que as que morreram em Oslo e em Utoya e que no Darfur a catástrofe alimentar ceifa muito mais vidas em cada hora do que todas as que se perderam nos acontecimentos do mar do Norte. Mas o que aconteceu em Oslo e também na ilha onde jovens activistas pensavam o futuro do planeta e da sociedade é um sintoma claro dum mundo doente, que atolado nas lutas do dinheiro e do mercado, não presta atenção à gangrena que progressivamente vai progredindo no seu seio, aos extremismos, à intolerância, à loucura e à depressão que avança como um cancro virulento que destrói os pilares da confiança e da segurança no mundo em que vivemos.
Parecemos jogadores de casino viciados que à custa de substâncias estimulantes mais ou menos legais, jogam ininterruptamente até que o seu mirrado corpo já não tenha sequer a força ou a consciência para fazer a derradeira aposta.
O Prémio Nobel pela sua natureza deve ser um hino à vida, mas para mim os jovens activistas caídos na ilha de Utoya são todos e cada um, merecedores do prémio Nobel da Paz. Os que caíram e os que sobreviveram. Eles estavam num acampamento de Verão a pensar um mundo melhor, mas esse mundo, minado pelas dinâmicas de fragmentação, escolheu-os ao acaso para mostrar que o pensamento livre é incómodo, que o voluntarismo activo chateia, que a diversidade amarga e a alegria participativa ressuscitam fantasmas.
O mundo da multidão é cada vez mais o mundo da solidão. Enquanto todos os noticiários e reportagens falam dos mercados, as pessoas são esquecidas e contam apenas como parte de agregados estatísticos. A Frustração aumenta e por vezes rebenta, de formas singelas com suicídios e desistências ou de formas brutais como esta agora escolhida (ao que indicam as buscas policiais) pelo radical norueguês.
Tenho filhos com idade para participar em acampamentos e movimentos de mudança sobre os mais diversos temas. Não posso deixar de me arrepiar ao pensar que amanhã pode ser com eles que aconteça uma coisa como esta. Espero que não, mas antes correr riscos para fazer, do que explodir no ódio e na loucura dos que se fecham sobre si e não se abrem ao mundo, sendo cómodos a uma sociedade alienada, até ao momento em que mostram que existem pelas piores razões.
Dizem as notícias, que em Oslo se ouviram explosões brutais. Deveriam provocar uma explosão forte no nosso coração e no nosso cérebro. O caminho da fragmentação não é o caminho que o mundo precisa. É tempo de arrepiar caminho, antes que caiamos todos entre tiroteio de fogo amigo, inimigo ou simplesmente fogo gerado pela alienação e a falta de sentido das coisas.
Rezo pelos caídos em Oslo mas não consigo odiar os que os mataram. Quero transformar a raiva em acção. É este “mundo” que tem que ser mudado. Transformar o mundo é a melhor homenagem aos Prémios Nobel involuntários da Noruega.
Eu sei que tudo pode ser relativizado e que diariamente morrem nas estradas mais pessoas do que as que morreram em Oslo e em Utoya e que no Darfur a catástrofe alimentar ceifa muito mais vidas em cada hora do que todas as que se perderam nos acontecimentos do mar do Norte. Mas o que aconteceu em Oslo e também na ilha onde jovens activistas pensavam o futuro do planeta e da sociedade é um sintoma claro dum mundo doente, que atolado nas lutas do dinheiro e do mercado, não presta atenção à gangrena que progressivamente vai progredindo no seu seio, aos extremismos, à intolerância, à loucura e à depressão que avança como um cancro virulento que destrói os pilares da confiança e da segurança no mundo em que vivemos.
Parecemos jogadores de casino viciados que à custa de substâncias estimulantes mais ou menos legais, jogam ininterruptamente até que o seu mirrado corpo já não tenha sequer a força ou a consciência para fazer a derradeira aposta.
O Prémio Nobel pela sua natureza deve ser um hino à vida, mas para mim os jovens activistas caídos na ilha de Utoya são todos e cada um, merecedores do prémio Nobel da Paz. Os que caíram e os que sobreviveram. Eles estavam num acampamento de Verão a pensar um mundo melhor, mas esse mundo, minado pelas dinâmicas de fragmentação, escolheu-os ao acaso para mostrar que o pensamento livre é incómodo, que o voluntarismo activo chateia, que a diversidade amarga e a alegria participativa ressuscitam fantasmas.
O mundo da multidão é cada vez mais o mundo da solidão. Enquanto todos os noticiários e reportagens falam dos mercados, as pessoas são esquecidas e contam apenas como parte de agregados estatísticos. A Frustração aumenta e por vezes rebenta, de formas singelas com suicídios e desistências ou de formas brutais como esta agora escolhida (ao que indicam as buscas policiais) pelo radical norueguês.
Tenho filhos com idade para participar em acampamentos e movimentos de mudança sobre os mais diversos temas. Não posso deixar de me arrepiar ao pensar que amanhã pode ser com eles que aconteça uma coisa como esta. Espero que não, mas antes correr riscos para fazer, do que explodir no ódio e na loucura dos que se fecham sobre si e não se abrem ao mundo, sendo cómodos a uma sociedade alienada, até ao momento em que mostram que existem pelas piores razões.
Dizem as notícias, que em Oslo se ouviram explosões brutais. Deveriam provocar uma explosão forte no nosso coração e no nosso cérebro. O caminho da fragmentação não é o caminho que o mundo precisa. É tempo de arrepiar caminho, antes que caiamos todos entre tiroteio de fogo amigo, inimigo ou simplesmente fogo gerado pela alienação e a falta de sentido das coisas.
Rezo pelos caídos em Oslo mas não consigo odiar os que os mataram. Quero transformar a raiva em acção. É este “mundo” que tem que ser mudado. Transformar o mundo é a melhor homenagem aos Prémios Nobel involuntários da Noruega.
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