Protagonistas
Em pleno mês de eleições autárquicas, movimentando muitos milhares de candidatos, uns à eleição e outros à reeleição, é normal que se fale bastante dos protagonistas que exercem o poder em democracia representativa, muitas vezes com numa abordagem generalista, laudatória ou crítica, sem ter em conta a diversidade ideológica, de géneros, cultura, experiência de vida, personalidade e tantos outros padrões e variáveis que fazem de nós “todos diferentes e todos iguais”, como reza uma conhecida expressão de apelo à não discriminação.
Num contexto de democracia representativa, os eleitos emanam da sociedade e refletem em larga medida o seu perfil, naquilo que ela tem de melhor e também naquilo que tem de pior. Não dou para o peditório dos que querem descredibilizar por atacado o exercício político democrático, generalizando casos de más práticas e abusos, nemdefendo qualquer branqueamento de responsabilidades, quando esse exercício é feito sem competência, transparência, empenho, seriedade e defesa do interesse público.
Como em tudo na vida, cada caso é um caso e sendo a democracia representativa o menos mau dos sistemas de governo conhecidos, também nela não se devem tomar as “nuvens por Juno”, sejam elas do tipo que forem, e seja qual for a origem e a intensidade do vento que as empurra.
Havendo um processo de propositura, quem aceita candidatar-se são tendencialmente pessoas com apetência pelo exercício do poder político, pela vontade de transformar e fazer acontecer e pela visibilidade pública que daí decorre. Uma visibilidade que nas sociedades mediatizadas e escrutinadas em que hoje vivemos constitui um ónus difícil de suportar por quem não tiver um gosto natural por se mover na praça da cidadania, assumindo os riscos de constrangimento e os benefícios de reconhecimento que daí decorrem.
Um bom candidato e sobretudo um bom eleito tem cada vez mais de assumir um perfil público, que implica competências e características próprias que são fundamentais para o seu bom desempenho (e também um bom programa, mas esse é o domínio da escolha plural de cada um de nós).
Uma crítica comum aos que se dispõem a ser eleitos é a de que estão à procura de protagonismo. É uma ideia perigosa que não pode ser generalizada. O melhor quepodemos desejar são protagonistas a aplicar os programas com que se comprometem, não por vaidade, mas por legítima necessidade de cumprir o seu dever e ver isso reconhecido.
Quanto melhores protagonistas elegermos, mais forte ficará a nossa democracia e melhor será a nossa vida em comunidade.