Venezuela a sangrar
2018/09/22 10:40
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Durante muitas décadas, beneficiando dos seus recursos naturais, em particular do petróleo, a Venezuela foi um Estado latino-americano relativamente próspero eatraiu para o seu território milhões de migrantes vindos dos países vizinhos, da Europa e de muitas outras paragens.
Nos últimos tempos, uma profunda derrapagem democrática e institucional gerou uma enorme crise humanitária. Mais de 2,5 milhões de Venezuelanos foram obrigados a deixar o seu País assolados pela falta de emprego, de bens essenciais, de medicamentos e de segurança. Primeiro partiram os homens e as mulheres em idade ativa para tentar encontrar noutras paragens o sustento para os que ficavam. Agora, segundo reportam as agências internacionais independentes, pelas várias rotas terrestres, marítimas e aéreas, fogem famílias inteiras e crianças e idosos sem com as raízes familiares arrancadas pela tormenta.
Segundo os dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) mais de1,5 milhões de venezuelanos disseminaram-se nos últimos meses por toda a América do Sul, ficando mais de metade na Colômbia, mas com fortes contingentesa chegarem também ao Peru, Chile, Argentina, Brasil e Panamá entre muitos outros. Meio milhão fugiu para a América do Norte e quase 300 000 rumaram àEuropa, em particular a Espanha, Itália e Portugal.
Na Assembleia Parlamentar União Europeia – América Latina (EUROLAT) realizada em Viena entre 17 e 20 de setembro, foi travado um acesso debatepolítico sobre a crise humanitária na Venezuela, introduzido tecnicamente por representantes da OIM e do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).
Uma tragédia com a dimensão daquela que está a suceder na Venezuela é sempre fruto dum estrondoso falhanço político. As causas e os contextos para que esse falhanço tenha ocorrido foram múltiplas e complexas. Num debate político é normal que as diversas causas sejam mais ou menos valorizadas em função da ideologia e da matriz de valores de quem analisa a situação. O que é inaceitável, e não pude deixar de partilhar este sentimento na intervenção que fiz no debate, é que se use o sofrimento atroz de mais de 2 milhões de pessoas para alimentar jogos de poder local ou regional, extremando a caracterização dos bons e dos maus e vice-versa, tal como é inaceitável que, noutro patamar, se use a tragédia humanapara alimentar as rivalidades geoestratégicas das grandes potências.
A tragédia humanitária na Venezuela (tal como muitas outras que vão ocorrendono mundo em que vivemos) convoca a ação política na sua forma mais nobre. A confrontação política é fundamental e legítima, mas a ação prática não pode esperar mais. É preciso ajudar o povo da Venezuela.
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