Poder Suave (soft power)
2017/12/02 18:49
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O mundo em que vivemos está em reconfiguraçãoacelerada, induzida pela revolução tecnológica nas duas áreas primordiais a partir das quais tudo se define – a informação e a energia.Nesta reconfiguração, a chave do poder está na capacidade de estabelecer as regras em que se decidirão as vitórias e as derrotas no mundo global emergente.
Em função das regras económicas, sociais e ambientais que prevalecerem, assim se definirá o sucesso ou insucesso das várias potências que competem pela liderança da nova globalização.
Para a União Europeia (UE) este período de transição é crítico. Por razões históricas conhecidas, a UE é uma grande potência económica mas é frágil no poder duro (Hard Power) que é dado pela capacidade de fazer a guerra se necessário, e intimidar pelo poder bélico os seus adversários.
Só agora começa a ganhar forma o embrião do que poderá vir a ser uma União da Segurança e da Defesa. Contudo, mesmo que esse movimento se consolide, não é razoável pensar que um projeto que se desenvolveu em torno dos valores da paz e da liberdade se procure afirmar no mundo global pela “força da força”.
A grande arma da UE é o poder suave que lhe é dado pela identidade, pela história, pela aceitação dadiferença e pela capacidade de trabalhar em rede e gerar sinergias positivas, quer no plano interno quer no plano externo.
Os tratados sobre a arte da guerra estão cheios de exemplos de como se pode projetar o poder duro e conquistar vantagens à escala global. E com o poder suave? Poderá a UE ir à luta e vencer no desenho das regras da nova globalização?
Os acordos de associação e livre comércio são os instrumentos de poder suave que podem tornar a União Europeia uma referência vencedora. É através deles que cada vez mais produtos europeus com valor acrescentado pela designação de origem conquistam mercados. É também através deles que exigimostransparência, equidade, respeito pelos direitos humanos e pela preservação do planeta nos mercados a que nos ligamos.
Comércio livre não significa comércio livre de regras. É através da partilha e da troca de bens e serviços que a União Europeia pode aproveitar o encolhimento protecionista da potência até agora dominante (os EUA) e projetar o seu poder suave num quadro multilateral, tornando-a forte num quadro de paz e liberdade.
Os casos recentes das parcerias com o Canadá, com o Japão, com a Austrália e com a Nova Zelândia, a modernização de múltiplos acordos em África e na América Latina e o impulso dado às negociações com o Mercosul, mostram que não obstante algumas tentações protecionistas, a UE está a aplicar com solidez a estratégia certa.
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