Eu cá não fui
2012/11/17 16:58
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Sempre mantive uma relação de grande proximidade com as pessoas do meu Concelho (Évora) e em particular do meu Bairro (Bacelo). Quando a agenda me permite gosto de passear pela cidade, tomar um café aqui e ali, folhear uns livros nas poucas livrarias, ir aos mercados e aos supermercados, fazer uma vida normal de cidadão eborense.
Há uns anos a esta parte que não sou no entanto um cidadão normal para os meus concidadãos. Tenho merecido a sua confiança para os representar na Assembleia da República e noutros cargos daí decorrentes desde 1995 (com uma interrupção entre 2002 e 2005).
A última função para que fui eleito (Presidente do Grupo Parlamentar do PS) deu-me uma visibilidade acrescida. Muitas das pessoas que se dantes me cumprimentavam afavelmente agora puxam conversa e manifestam os seus sentimentos. A maior parte pede-me que faça tudo o que puder para “tirar de lá” o governo em funções o mais depressa possível.
De forma pedagógica, a todos explico que este governo tem legitimidade democrática que lhe foi dada em eleições e que só o povo ou o Presidente da República podem interromper o seu mandato sem a sua concordância.
Explico ainda que nas eleições de 2011 embora o Distrito de Évora tenha sido um dos dois em que o PS foi maioritário em termos nacionais, a vitória foi curta e no Bairro em que vivo pela primeira vez desde que há eleições legislativas o PSD foi o partido mais votado. É nessa altura que as pessoas arregalam os olhos e me dizem convictamente – “eu cá não fui”!
A verdade é que tenho falado com centenas ou mesmo milhares de pessoas e ninguém assume ter parte dos cerca de 30% de votantes do PSD em Évora. Será azar meu? Será que só os votantes PS e CDU falam comigo? Sinceramente não me parece. O que me parece é que muitos votos em 2011 foram votos não ideológicos, embalados nos cantos de sereia da campanha de Passos e agora já mesmo quem votou PSD, excepto os membros do Partido ou os seus simpatizantes ou representantes na administração, prefere esquecer a sua opção.
Não me deixo entusiasmar com esta ideia. As pessoas sentem-se enganadas com a escolha feita no PSD (em Évora o CDS/PP conta menos para a contabilidade) e a questão é saber se são recuperáveis para voltar a confiar numa alternativa de Governo.
A responsabilidade do PS é por isso enorme. Temos que continuar a preparar uma alternativa em vez de aguardar a alternância. Não quero, quando voltar a haver eleições, que estou certo o PS ganhará no Bacelo, em Évora, no Distrito e no País, ouvir alguém dizer alguns meses depois que “eu cá não votei em vocês”, de pessoas que tenho quase a certeza que terão votado. A democracia precisa de confiança entre eleitos e eleitores.
Ser político exige cada vez mais coragem, determinação, transparência, projecto, gosto e convicção. Se há quem tenha escolhido exercer atividade política por outras razões eu “cá não fui”.
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