A Luta pela Supremacia (Em defesa e uma Convenção Europeia)
2016/10/01 09:38
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A História da Europa, em particular no último milénio, em que se foram
consolidando as nações e os impérios, é uma história de guerras, mais ou menos
longas, mas sempre sangrentas e destrutivas. Os tempos de Paz foram sempre
interlúdios para preparação da guerra, numa luta brutal pela supremacia, vista
como um caminho de segurança e proteção.
Alianças de matriz diversa, criaram-se e eclodiram a um ritmo
vertiginoso. As guerras devastaram a Europa e muitos territórios sobre sua
influência. Já no século XX, a luta pela supremacia na Europa conduziu à
eclosão de duas Guerras Mundiais.
Nestes tempos conturbados porque passa a União Europeia, vale a pena
aprender com a história e tentar combater a “profecia” de Mark Bloch, de que a
história se repete sempre em ciclos cada vez mais acelerados.
Em boa verdade a profecia já foi quebrada uma vez, com a emergência do
projeto europeu. O desenvolvimento da União Europeia não terminou com a
conflitualidade bélica no território europeu, mas reduziu-a drasticamente. Durante
os últimos sessenta anos a paz predominou sobre a guerra no continente europeu
e sobretudo no território abrangido pela União.
No entanto, o enfraquecimento notório da União a que estamos a assistir
desde o despoletar da crise financeira de 2008, ressuscitou sinais preocupantes,
que indiciam que várias nações europeias se estão de novo a preparar para a
luta pela supremacia. O regresso da guerra generalizada ao território europeu, sobre
as múltiplas formas que uma guerra pode assumir nos tempos de hoje, ainda é um
cenário longínquo, mas já é um cenário plausível.
No atual quadro de globalização, a divisão da Europa numa luta pela
supremacia no continente, além de perigosa, significará a irrelevância do
continente e em particular da sua península e território atual da UE, hoje
ainda uma potência global com peso económico e político.
Acredito que a luta pela supremacia que faz sentido é a luta pela
disseminação global de alguns valores marcantes da União Europeia. A supremacia
na adopção global de modelos de respeito pelos direitos humanos, pela liberdade
política, pela aceitação da diversidade e da diferença, pela cooperação entre
os povos e pela proteção do planeta.
Defendo por isso a convocação urgente de
uma Convenção Europeia para retomar os caminhos do progresso, da tolerância, da
paz e do desenvolvimento com rosto humano e sensibilidade ambiental. Será uma
decisão arriscada? Não fazer nada é muito mais.
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