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A invasão da Ucrânia pela Federação Russa e o pronto apoio que a União Europeia organizou para apoiar a resistência militar, mitigar os impactos humanitários e sancionar os infratores, teve e continua a ter, como era inevitável, fortes impactos económicos e sociais. Na União Europeia, como noutros territórios do mundo livre, estamos a pagar um “preço” pela defesa do direito internacional e pela preservação dos nossos valores da paz, da liberdade e da democracia.
Os valores porque pugnamos são impossíveis de avaliar num plano de racionalidade económica e financeira. A paz, a liberdade e a democracia valem por si mesmas. São a primeira razão de existir da parceria europeia e é sobre elas que tudo o resto se tem vindo a construir ao longo de décadas.
A constatação anterior não implica, no entanto, que não tenha que haver uma profunda ponderação na forma como as diversas medidas são aplicadas e como elas devem ser interligadas nos processos de modernização e de desenvolvimento em curso.
Uma questão chave é a equidade na distribuição dos sacrifícios. Não podem ser os mais vulneráveis e desprotegidos a arcar com o maior peso, ainda que seja apenas um peso relativo. Em nome da justiça social e também da robustez da democracia, sempre sujeita à predação populista, tem que haver sensibilidade e humanismo naquilo que se exige de cada um para ajudar a vencer a batalha pelo bem comum.
O contexto de conflito interfere também com a forma como são olhadas e até financiadas as estratégias gémeas de modernização e desenvolvimento da União Europeia, focadas na descarbonização e na digitalização e na transição energética e digital. A aprovação das iniciativas legislativas estruturantes para estas reformas está a atingir o seu ponto crucial nas diversas instituições europeias.
Em relação a essas iniciativas existem três posições de referência. Os que querem congelar a mudança enquanto a guerra não terminar, os que querem regredir e desistir e os que, como eu, defendem que é em momentos de crise que as grandes transformações devem ser feitas e consolidadas. Mas também aqui a transformação não pode ser feita a qualquer preço. Tem que haver um alinhamento de regras, recursos e tecnologias, para que a transformação assegure a competitividade dos sectores económicos e a sustentabilidade do modelo social. Parar é morrer e regredir é bloquear o futuro. Temos que avançar com passos seguros para construir soluções equilibradas e vencedoras.