O Visionário
Passaram já alguns dias sobre a infausta noticia da morte do Comendador Manuel Rui Azinhais Nabeiro. Na hora da despedida Portugal fez-lhe mais uma vez justiça. Desde os seus mais próximos, familiares, amigos, colaboradores, até aos mais altos responsáveis, todos foram unânimes no reconhecimento da sua singularidade e do seu percurso de homem bom, que fez escolhas e tomou decisões com risco e coragem, tendo sempre presente o outro, a terra que o viu crescer, o País que era o seu e os valores políticos socialistas que perfilhava com orgulho.
Tudo o que foi dito e escrito sobre o Comendador não foi demais. Tive oportunidade de partilhar os meus sentimentos e a minha homenagem em privado e também nalguns órgãos de comunicação social que me contactaram e nas minhas redes sociais. Um dos sinais da grandiosidade e ao mesmo tempo da humildade de Rui Nabeiro é a quantidade de pessoas que se sentiram e sentem seus próximos.
Tendo o Comendador como um amigo e uma referência, só ocasionalmente lhe fui próximo, mas mesmo assim vêm-me à memória múltiplas histórias inesquecíveis, conversas, trocas de ideias, conselhos, que foram desde o futebol, ao desenvolvimento do Alentejo e do País, às coisas do mundo e até a um potencial investimento em terras do sol nascente, que não avançou porque “um negócio que não podia já ver crescer com os seus próprios olhos, por estar longe demais, não era negócio para ele”.
Neste texto partilho uma pequena história que traça bem a inteligência, a sabedoria e o caracter visionário do Comendador. Em 1995, escrevi a convite do IAPMEI um livro intitulado “Gestão da Informação - Condição para Vencer”. O livro era acompanhado de uma Cassete Vídeo com entrevistas e descrição de casos práticos. Um desses casos era o caso da DELTA e o entrevistado Rui Nabeiro.
Na entrevista, e dispensando as descrições técnicas dos equipamentos, o Comendador explicou como os seus vendedores estavam já equipados com máquinas de registo automático de encomendas que descarregavam para a empresa por linha telefónicapraticamente em tempo real, dando inicio de imediato ao processo de resposta e ganhando assim uma vantagem concorrencial decisiva. Para ele a empresa era tudo o que sabemos que era, mas para o ser, era primeiro que tudo o cliente.
Também na adoção de novas tecnologias de informação e de controlo de qualidade a DELTA foi pioneira em Portugal. Não foram consultores reputados que convenceram o Comendador a ser líder. Foi ele guiou os especialistas na construção de uma resposta tecnológica que fez a diferença.