A Falácia dos Muros
2020/03/01 20:45
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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As voltas da vida levaram-me a Israel e à Palestinanum tempo em que a humanidade se vai mobilizando para tentar mitigar primeiro, e conter depois, um vírus poderoso e com novos padrões de contágio, capaz de galgar rapidamente continentes por maiores que sejam as barreiras que lhe tentem interpor.
Na peregrinação histórica e espiritual por lugares de rara beleza e simbolismo fui-me apercebendo mais uma vez como ao longo da história a humanidade foi caindo na falácia dos muros, para separar o inseparável, ou seja, a epopeia de sobrevivência e evolução que nos uniu e trouxe até aquilo que somos hoje.
Israel e a Palestina em concreto estão separados por um muro complexo, que também é um muro físico. Por todo o planeta, sociedades mais ou menos evoluídas continuam a construir muros mesmo sabendo que nenhum muro físico pode conter as grandes ameaças com que hoje nos confrontamos, sejam ameaças naturais, sejam ameaças decorrentes da perversidade no uso das conquistas científicas e tecnológicas que conseguimos concretizar.
Vivemos um tempo de propagação imediata do que é bom e também do que é mau. A quinta geração (5G) na captura, tratamento, armazenamento e acesso quase instantâneo a quantidades exponenciais de dados, anuncia o advento de novas redes globais de ligação entre as coisas que permitirão criar modelos, processos, produtos e serviços para tornar a vida melhor para a humanidade, ou, se mal utilizadas, acelerar os fatores de risco com que ela se confronta.
Acredito que as novas tecnologias serão um aliado precioso no grande combate estrutural que temos que travar contra as alterações climáticas e o aquecimento global, e no imediato, ajudarão cientistas de todo o mundo a criar a rede necessária para mitigar e conter a ameaça da nova estirpe vital. Se assim acontecer, os factos dar-nos-ão mais uma vez uma lição clara. Para fazer face a problemas complexos, a conexão e sobretudo a cooperação possível através dela, são as formas mais racionais e eficazes para encontrar boas soluções.
Derrubar os muros do conhecimento e da desconfiança de que os muros físicos foram no passado o mais forte exemplo e são hoje resquícios simbolicamente deprimentes , tem que ser uma prioridade para um mundo em mutação acelerada, pungente no saber mas frágil na sabedoria, potente na tecnologia mas desigual no acesso, iluminado na ciência mas incapaz de com ela proporcionar uma vida digna a uma parte significativa dos seres humanos.
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