De génio e de louco ...
De génio e de louco todos temos um pouco, como nos ensina a sabedoria popular. Esta máxima aplica-se de forma muito aumentada a Elon Musk, o empreendedorde 49 anos, que nasceu na Africa do Sul, viveu no Canadá e se tornou um investidor global com base nos Estados Unidos.
Musk tem uma indiscutível genialidade e uma proverbial loucura. É um personagem ao mesmo tempo fascinante e inquietante. Decidi dedicar-lhe uma das minhas crónicas de deambulação estival pelo misto de esperança e inquietação que as suas previsões sobre o futuro me incutem.
A Tesla, joia da sua coroa, esteve moribunda, mas deu a volta por cima e tornou-se líder no segmento da mobilidade limpa. Os diversos modelos estão naprimeira linha como ícones de tecnologia e de sustentabilidade. Na bolsa, as ações atingiram picos inimagináveis. O veículo espacial SpaceX, desenvolvido pela empresa com o mesmo nome, voou com sucesso até à estação orbital, dando um passo tecnológico determinante para cumprir outras das “alucinações”de Musk e fazer das viagens a Marte uma rotina e um passatempo turístico para os mais abonados e extravagantes.
As declarações públicas do génio alternam entre tiradas próprias de alguém que parece vindo de outra galáxia, com outras que chocam pela sua insensibilidade e falta de empatia. A sua vida pessoal confunde-se com um enorme jogo em que a fronteira entre a ficção e a realidade é difícil de descortinar. Pai recentemente, o nome atribuído à filha é impossível de escrever num teclado normal de computador. Para os amigos é X. Esteve com Obama, mas agora oscila nonamoro com Trump. É instável, imprevisível, único. Já lhe chamaram ciborgue.
Dedico este texto a Elon Musk não pela sua sagacidadecomo inventor de futuros mais ou menos confiáveis, mas pela sua afirmação, que li em recente entrevista,de que a humanidade enfrenta um desafio bem maior do que ir a Marte ou manter a Terra habitável. O desafio da inteligência artificial (IA) e da capacidade a colocar ao seu serviço das pessoas e não de quem as deseja submeter.
Na antevisão de Musk, em 5 anos a IA será mais inteligente que os humanos, beneficiando de um falso sentimento de confiança dos que sendo suficientemente especializados para lidar com ela, sobrevalorizam a sua capacidade de a controlar.
Esta loucura vinda de um génio pode tornar-se real. A IA pode tornar-se mais inteligente que os humanos, mas se suplantar a humanidade, já fomos. Tenhamos a humildade de compreender e resistir.