Macron, Merkel e a defesa europeia.
2018/11/17 16:21
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Na cerimónia que assinalou o armistício que há 100 anos pôs fim à mortífera primeira -guerra mundial que dilacerou a Europa e outras regiões do globo, o Presidente Francês Emanuel Macron, seguindo uma linha de tradição gaullista retomou a ideia de criação de um exército europeu para fazer face às novas ameaças globais. Alguns dias depois na sua intervenção sobre o futuro da Europa feita no hemiciclo de Estrasburgo do Parlamento Europeu a chanceler alemã Ângela Merkel retomou a defesa da ideia.
O tema, pela sua importância e impacto gerou reações múltiplas, umas mais desfavoráveis e outras menos, dando mais uma prova da vitalidade democrática que ainda subsiste na Europa. na minha opinião é evidente que a União Europeia tem que reforçar a sua capacidade de defesa e segurança comum. para começar esse processo o Tratado de Lisboa fornece um instrumento muito adequado, que também serve para a cooperação na moeda única ou na gestão das fronteiras. A União Europeia deve avançar rapidamente para uma cooperação reforçada forte de defesa e segurança comum, em articulação com a sua participação ativa e de pleno direito na Aliança do Tratado do Atlântico Norte (OTAN / NATO).
A razão porque é fundamental reforçar essa cooperação é evidente. O guarda-chuva americano ainda que muito importante, é cada vez mais vulnerável a conjunturas políticas e as relações geopolíticas globais estão em forte mudança. Como aprendemos ao longo da história e em particular da história recente, a paz é em larga medida fruto do equilíbrio de poderes. Qualquer desequilíbrio pode despertar os demónios da tentativa de hegemonia de uns povos sobre os outros. A União Europeia para prolongar os extraordinários 60 anos de paz interna de que pôde disfrutar desde o inicio da sua parceria, tem que garantir um potencial de equilíbrio de forças no plano geoestratégico de que neste momento não dispõe.
Aquilo que se aplica à relação da União Europeia com as potências externas deve aplicar-se também ao plano interno. Uma cooperação reforçada para a defesa e segurança deve ser uma parceria entre iguais e evitar qualquer hegemonia específica. Como antes referi os desequilíbrios são potenciais sementes de conflito.
Finalmente sublinho uma questão semântica, mas não menos importante. Designar a estrutura europeia de defesa e segurança como um exército remete-nos para uma visão tradicional da guerra. Ora a guerra do futuro tenderá a ser muito diferente, com componentes cibernéticas e biológicas tão ou mais importantes que os atuais mecanismos convencionais ou de destruição maciça.
Em síntese. Merkel e Macron lançaram um debate a que não podemos fugir. A concretização do seu desafio deve ser feita, no entanto, com muita ponderação e respeitando o princípio de rede e de parceria que define o projeto europeu.
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