O Salto Estrutural
Num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias, o antigo Ministro da Economia e Professor da Universidade do Minho Manuel Caldeira Cabral, baseando-se nos mais recentes dados sobre a economia nacional, designadamente no domínio das exportações, demonstra que não obstante o baixo crescimento médio do PIB, a partir de 2005 se verificou um salto estrutural e um aumento consistente da competitividade económica externa do País.
Nos últimos 17 anos o peso das exportações na criação da riqueza nacional evoluiu de 27% para 50%. Nos primeiros nove meses deste ano as exportações cresceram 39% em relação a igual período do ano anterior. Exportámos nos primeiros nove meses deste ano, o mesmo que tínhamos exportado em todo o ano de 2021. O conceituado economista demonstra na sua análise como este movimento traduz um ganho de quota global dos nossos principais sectores exportadores, associado ao aumento da captação de investimento estrangeiro, ao esforço de investimento e de internacionalização dos empresários nacionais, ao aumento das qualificações e ao apoio dado às empresas nos mercados externos.
Os números falam por si e são muito encorajadores. Só com mais exportações podemos crias condições para aumentar o consumo, o investimento e os gastos públicos estratégicos, assegurando melhores serviços e condições de vida dos portugueses, sem gerar um desequilíbrio crónico da balança de pagamentos e sem voltar a aumentar em espiral o deficit público.
A constatação de um salto estrutural com base nas exportações, tem, no entanto, um componente que exige profunda reflexão. As nossas empresas nos diferentes setores estão mais competitivas. Em larga medida isso deve-se a boas apostas de modernização e gestão, mas também se deve aos baixos salários relativos que são pagos em Portugal e que estão a sangrar para fora do País ou para a anemia produtiva quadros altamente qualificados e um bom pedaço daquela que costumamos qualificar como a geração mais qualificada de sempre.
O salto estrutural conseguido pela maior produtividade, mais qualidade da oferta e melhor posicionamento nas cadeias de valor é uma grande notícia que merece ser sublinhada. A componente do salto estrutural nas exportações que se ficou a dever aosbaixos salários relativos é uma miragem dolorosa, fictícia e insustentável.
Temos que garantir que a maior competitividade do País não é conseguida à custa de baixos salários e que pelo contrário, se afirma como uma dinâmica capaz de proporcionar de forma sustentável, quadros salariais mais atrativos e justos.