Fronteiras
2015/11/21 10:28
| Diário do Sul, Fazer Acontecer
| Link permanente
A humanidade sempre progrediu derrubando
fronteiras. Fronteiras de conhecimento, fronteiras no comércio, fronteiras de
comunicação, fronteiras na aceitação das diferenças culturais e religiosas,
fronteiras tecnológicas e fronteiras na circulação de pessoas e mercadorias,
entre muitas outras.
O processo de derrube de fronteiras
nunca foi fácil nem linear. Teve progressos e retrocessos. Gerou guerras,
massacres e revoluções. Chegámos ao início do Século XXI ainda com muitas
fronteiras da mais diversa ordem e com uma enorme ameaça sobre as que foram
anuladas. Corremos um elevado risco de retrocesso e acantonamento.
Pela grande maioria dos cidadãos do
mundo perpassa uma dupla e legítima vontade de serem livres e de se sentirem
seguros. O problema é que uma rede altamente minoritária mas potente está
profundamente empenhada em não o permitir. Trata-se de um confronto brutal de
formas de compreender e fruir a vida.
As fronteiras da liberdade e da privacidade
nas redes sociais e a preservação da abolição de fronteiras nos países europeus
que integram o acordo de Shenghen, são dois exemplos em que não é fácil uma
equação política que garanta ao mesmo tempo a liberdade e segurança.
São dois temas também em que como Eurodeputado
vou ter que participar na decisão sobre o caminho a seguir. Uma decisão
difícil, que exige ponderação, sensibilidade, análise e capacidade de partilha
e de aprendizagem, com o muito que se vai refletindo nestes dias sobre estes
temas.
Vejamos o caso da Internet. Não devemos
ceder na sua gestão pelos utilizadores, na proteção de dados e no direito à
privacidade. Mas temos que compreender que grande parte da nossa proteção
contra a nova guerrilha está na interceção de comunicações e na antecipação e
desmantelamento dos ataques. Logo, em vez de construir fronteiras virtuais,
devemos permitir e incentivar cada vez mais a avalanche de trocas. Na imensidão
é possível identificar traços de risco sem penetrar na privacidade de cada
cidadão em concreto, exceto se for identificado de forma juridicamente robusta
como suspeito.
E o caso de Shenghen, uma das conquistas
mais efetivas e ao mesmo tempo mais simbólicas da construção europeia. Quanto
mais fronteiras internas forem reerguidas maior será o risco, a desorganização
e a tentação de comportamentos persecutórios e não democráticos. Em
contrapartida faz sentido, ainda que provisoriamente, reforçar a fronteira
externa da União Europeia, não para a fechar, mas para conhecer melhor os
fluxos que as atravessam e assim transmitir a confiança necessária para que os
cidadãos que vivem no território da União Europeia possam desempenhar o seu
principal papel neste combate; manter o seu modo de vida, a sua liberdade de
escolha, a sua liberdade de expressão e a sua dignidade.
Comentários