Amigos do Povo - A geringonça e o futuro.
2018/10/06 10:01
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Em recente entrevista à TVI o Primeiro-ministro António Costa caracterizou a relação política entre o PS enquanto Partido de Governo e os Partidos que asseguram a maioria parlamentar, dizendo que é uma relação em que “dá para ser amigos, não dá para casar”.
Obviamente que pela sua natureza, esta apreciação metafórica prestou-se a múltiplas interpretações. Em democracia os representantes políticos devem servir quem os elegeu, respeitando a vontade da maioria. Por isso é normal que as maiorias políticas sejam constituídas por amigos ... mais propriamente por amigos do povo. Quanto a “casarem” entre eles, a questão é diferente.
Quando, a seguir às eleições legislativas de 2015, se começou a desenhar a possibilidade de formação de uma maioria alternativa à coligação pró austeridade e empobrecimento corporizada pela PAF de Passos Coelho e Paulo Portas, escrevi num diário de expansão nacional que o grande risco da “geringonça” era uma eventual perda de identidade dos parceiros envolvidos. Sabemos hoje, até pela dureza, frontalidade e transparência com que se realizam as múltiplas negociações no quadro da maioria parlamentar, que essa identidade não se perdeu.
Um casamento na sua interpretação literal não implica a perda de identidade dos cônjuges. Um “casamento” político em contrapartida tem um risco muito grande de diluição de identidades que não serve a vitalidade democrática. São as parcerias para fazer acontecer e não os “casamentos” para sobreviver que dão força à democracia.
Em Portugal, relação entre os Partidos que formam a maioria parlamentar tem sidoassegurada pela perceção generalizada de que a governação tem sido boa para o país e para a maioria dos portugueses. A partilha do capital político conquistado estabelece laços fortes entre quem contribuiu para os conquistar, sem anular as diferenças de perspetiva e de prioridades dos envolvidos.
A obrigação de um partido democrático, é escolher em cada momento os parceiros políticos que lhe permitem ser amigo do povo, responder aos seus anseios, aplicar o seu programa e enriquecer a sua visão sem abandonar a sua matriz de valores e princípios. As parcerias políticas não são unívocas. Implicam cedência mútua até ao limite do compromisso primordial feito com o povo, ou seja, feito entre cada partido e o seu eleitorado.
Seja qual for o resultado das eleições que se aproximam não vejo razão para que o PS, BE, PCP e Verdes deixem de ser amigos pelo povo, nem impedimento que outros amigos, partidos ou movimentos, se juntem globalmente ou parcialmente à parceria para a tornar ainda mais capaz de servir Portugal.
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