Heroi Improvável (sobre Jobs, a Apple e os mercados)
2011/01/19 09:25
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Steve Jobs é um visionário e um empreendedor. Da sua imaginação nasceram os mais poderosos instrumentos tecnológicos para uso individual das últimas décadas fazendo da Apple uma referência de design, inovação e criatividade.
O valor bolsista da empresa atingiu com o sucesso dos mais recentes produtos 320 Biliões de dólares, mas o rumor não explicado de que Steve Jobs viu o seu estado de saúde agravado fê-la perder (e aos accionistas que permaneceram fieis) quase 10% do valor (Uma fortuna superior ao PIB de muitos países e suficiente para resolver o problema da dívida de curto prazo de muitos outros).
A doença de Steve Jobs e a sua repercussão na bolsa levanta questões interessantes no plano da ética social e da ética dos negócios, que entram aqui em colisão frontal. Os mercados, esses deuses pagãos da modernidade, condenaram Jobs e cobraram fortemente a factura por ele não deixar claro se o seu cancro pancreático se agravou.
Steve tem o direito à privacidade numa situação tão difícil como aquela que deve estar a viver, mas os investidores que apostam dinheiro na sua empresa sobretudo pela confiança que têm na capacidade criativa e de gestão do seu líder também têm o direito de conhecer o estado de aptidão para o exercício de funções do seu mais precioso activo. Além do mais, não havendo informação pública há sempre o risco de ganhar forma o uso abusivo de informação assimétrica obtida por alguns que tenham contacto mais directo com o CEO da Apple, com o seu staff ou com a equipa médica que o acompanha.
Na sociedade de rede em que vivemos a privacidade e a transparência dificilmente são conceitos absolutos sobretudo para quem está no centro do furacão mediático e comunicacional. O mundo da informação instantânea tem horror ao vazio. Sobre Jobs e o seu estado de saúde não há, no momento em que escrevo este texto, uma história mas múltiplas histórias a circular. Em boa verdade estamos neste caso num estado de não privacidade e não transparência.
Esta crónica não pretende ser conclusiva. Sobre o tema não tenho ainda sequer uma visão consolidada. Escrevo-a como um alerta para os novos desafios com que nos confrontamos na sociedade global.
Talvez a sabedoria popular que sobrevive aos entusiasmos do efémero nos possa ajudar a esboçar uma linha de pensamento. Lembro-me dum ditado que nos ensina que “quem não quer ser cordeiro não lhe deve vestir a pele” e de outro que proclama que “quem não arrisca não petisca”. Quem arrisca e vence, veste uma pele que lhe dá poder, direitos e também exposição e deveres. Tudo isto era mais simples se a arbitragem entre a ética social e a ética dos negócios fosse arbitrada pela ética dos mercados. Mas esta última se existe não se nota e o que se nota não merece ser chamado de ética.
Steve Jobs inventou próteses cognitivas de base tecnológica para as pessoas terem mais informação e diversão. Talvez enfrente agora um último desafio. Desenvolver uma prótese para tornar as pessoas melhores e mais capazes de enfrentar a voracidade dos mercados e ajudar a torná-los mais éticos e sustentáveis no processo de criação e distribuição da riqueza. Ele que já é um ícone da modernidade tornar-se-ia então um seu herói.
O valor bolsista da empresa atingiu com o sucesso dos mais recentes produtos 320 Biliões de dólares, mas o rumor não explicado de que Steve Jobs viu o seu estado de saúde agravado fê-la perder (e aos accionistas que permaneceram fieis) quase 10% do valor (Uma fortuna superior ao PIB de muitos países e suficiente para resolver o problema da dívida de curto prazo de muitos outros).
A doença de Steve Jobs e a sua repercussão na bolsa levanta questões interessantes no plano da ética social e da ética dos negócios, que entram aqui em colisão frontal. Os mercados, esses deuses pagãos da modernidade, condenaram Jobs e cobraram fortemente a factura por ele não deixar claro se o seu cancro pancreático se agravou.
Steve tem o direito à privacidade numa situação tão difícil como aquela que deve estar a viver, mas os investidores que apostam dinheiro na sua empresa sobretudo pela confiança que têm na capacidade criativa e de gestão do seu líder também têm o direito de conhecer o estado de aptidão para o exercício de funções do seu mais precioso activo. Além do mais, não havendo informação pública há sempre o risco de ganhar forma o uso abusivo de informação assimétrica obtida por alguns que tenham contacto mais directo com o CEO da Apple, com o seu staff ou com a equipa médica que o acompanha.
Na sociedade de rede em que vivemos a privacidade e a transparência dificilmente são conceitos absolutos sobretudo para quem está no centro do furacão mediático e comunicacional. O mundo da informação instantânea tem horror ao vazio. Sobre Jobs e o seu estado de saúde não há, no momento em que escrevo este texto, uma história mas múltiplas histórias a circular. Em boa verdade estamos neste caso num estado de não privacidade e não transparência.
Esta crónica não pretende ser conclusiva. Sobre o tema não tenho ainda sequer uma visão consolidada. Escrevo-a como um alerta para os novos desafios com que nos confrontamos na sociedade global.
Talvez a sabedoria popular que sobrevive aos entusiasmos do efémero nos possa ajudar a esboçar uma linha de pensamento. Lembro-me dum ditado que nos ensina que “quem não quer ser cordeiro não lhe deve vestir a pele” e de outro que proclama que “quem não arrisca não petisca”. Quem arrisca e vence, veste uma pele que lhe dá poder, direitos e também exposição e deveres. Tudo isto era mais simples se a arbitragem entre a ética social e a ética dos negócios fosse arbitrada pela ética dos mercados. Mas esta última se existe não se nota e o que se nota não merece ser chamado de ética.
Steve Jobs inventou próteses cognitivas de base tecnológica para as pessoas terem mais informação e diversão. Talvez enfrente agora um último desafio. Desenvolver uma prótese para tornar as pessoas melhores e mais capazes de enfrentar a voracidade dos mercados e ajudar a torná-los mais éticos e sustentáveis no processo de criação e distribuição da riqueza. Ele que já é um ícone da modernidade tornar-se-ia então um seu herói.
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