Um Alentejano em Marte
Escrevi recentemente neste espaço um texto sobre o papel da diplomacia, enquanto instrumento de defesa e segurança baseada na cooperação e na interdependência, que tem sido usada pela União Europeia como garante de paz interna e relevância externa. Nele referi que não obstante a proteção acrescida dada pela integração na NATO, os tempos que vivemos e a brutal aceleração tecnológica com reflexo nos sistemas de segurança e defesa, recomendam da União um maior investimento nessas áreas. Um investimento feito numa perspetiva de precaução e promoção da paz e ao mesmo tempo de desenvolvimento sustentável dos territórios, das industrias e dos serviços associados.
Foi nesta linha que a Comissão Europeia apresentou recentemente um plano de ação sobre as sinergias entre as indústrias civis, da defesa e do espaço, afim de reforçar o potencial tecnológico da Europa e apoiar a sua base industrial. Pretende-se com o plano e as suas ações específicas, mobilizar o financiamento da União Europeia nos vários programas como o Horizonte Europa, o Digital Europa ou o Programa Europeu do Espaço, para reforçar a inovação, explorando o potencial disruptivo das tecnologias de interface entre a defesa, o espaço e as utilizações civis, como a computação em nuvem, os processadores, a cibernética, a quântica e a inteligência artificial.
A paz conquistada pela União Europeia no seu território constitui, juntamente com a liberdade e com a democracia, patrimónios civilizacionais de valor incalculável, que correm o risco de se perderem, se forem dados por adquiridos. É célebre a ideia que, ao contrário do que acontece com outras potências, nenhum Europeu está disposto a morrer em combate para defender a Europa.
Temos que ser pragmáticos e dirigir o nosso combate para o reforço das garantias de paz, investindo em tecnologias que nos permitam dissuadir ameaças externas e ao mesmo tempo criar emprego, promover a competitividade da nossa industria e desenvolver o sistema científico. Os “hubs” de inovação que vão ser disseminados por toda a União, as infraestruturas de conetividade, os laboratórios avançados ou os centros de conhecimento, têm que ser parte de uma rede para a paz que nos ajudará a evitar a guerra.
Quando um alentejano pousar em Marte, num projeto da União Europeia em que a nossa região esteja envolvida, isso significará que não ficámos em terra na corrida do espaço, e fará também prova que estaremos mais capazes de assegurar a paz, quer pela capacidade de competir tecnologicamente, que pela faculdade de com essa tecnologia nos defendermos.