Chuva
2013/06/08 14:04
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Vitor Gaspar disse na assembleia da República que as suas previsões
falharam por causa da chuva. Do meu ponto de vista, que sei tanto de
meteorologia como Gaspar de economia, foi mais por causa da seca.
O clima anda estranho. Ora chove ora faz sol. Ora parece que o Verão
assentou arraiais ora regressa a invernia (isso de Primavera e Outono nos dias
que correm já são mais figuras de estilo). Mas no reino da governação os
desígnios climáticos têm uma mão por detrás do arbusto e não é a do Presidente!
Vitor Gaspar secou a economia, tirou-lhe massa monetária, desalavancou
à grande e à alemã, esmagou a procura interna, destruiu o tecido criador de
riqueza, tornou o terreno dos negócios esquelético e sem consistência e provocou
um retrocesso impensável.
Hoje Portugal tem os mesmos postos de trabalho que tinha há 18 anos e a
cria a mesma riqueza que criava na viragem do milénio.
Uma enxurrada de austeridade varreu as nossas especializações a nossa
sustentabilidade social e económica e no horizonte nenhum arco-íris nos indica
o ponto de viragem.
Gaspar não quer que chova e sobretudo não quer que haja dinheiro
disponível nas famílias portuguesas. E porquê? Porque as dinâmicas económicas
perturbam os seus modelos financeiros.
Não fora a mania das pessoas de trabalharem, produzirem, consumirem e
viverem com um certo sentido de procura da satisfação e Gaspar teria conseguido
errar menos as suas tecnicamente impolutas e sofisticadas previsões.
O ideal para quem pensa como ele, seria mesmo uma economia sem pessoas!
As máquinas são mais previsíveis, não fazem greves e não vivem acima das suas
possibilidades. Já viram algum motor continuar a trabalhar sem combustível? E
pessoas a sobreviver sem dinheiro? Percebem agora Gaspar? Eu percebo e por isso
lutarei com todas as minhas forças, não contra a pessoa, mas contra a
perversidade das suas ideias!
Só essa perversidade justifica aliás que as Finanças retenham o
subsídio de férias de grande parte dos funcionários públicos portugueses para
lhe ser creditado apenas em Novembro.
Imaginem que não chovia este Verão e as famílias decidiam ir até à
praia e aos campos. Que desperdício de recursos! Estradas com trânsito,
restaurantes com clientes, hotéis e pensões lotadas, apartamentos alugados, consumos
supérfluos de cerveja, gelados, bolas de Berlim e até marisco comercializado e
consumidos em tempo de crise! Os artesãos com procura, os profissionais do
entretenimento, as lojas de churros e farturas, os bailes e as discotecas, os
saraus culturais e as tertúlias em veraneante animação. Luxúrias dos povos do
sul que quanto menos dinheiro têm mais tendência manifestam para gastar tudo o
que recebem!
Coisas da chuva, sobretudo quando apanha um cidadão desprevenido e lhe encharca
a cabeça.
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