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Muros




 

No dia 9 de Novembro de 1989 a força conjunta e o desejo de liberdade individual e coletiva dos Europeus do leste e do oeste, derrubaram o muro que separava a Europa democrática da Europa subjugada ao modelo de partido único e ao centralismo soviético.

 

A queda do Muro de Berlim permanece na minha memória como um dos momentos de maior alegria e esperança no futuro. Tinha então 30 anos e acreditei que o desmantelamento pedra por pedra do Muro de Berlim seria um ponto de não retorno. Acreditei que a minha geração e as gerações seguintes não voltariam a permitir que novos muros de intolerância fossem construídos na Europa e no Mundo.

 

Permitiram. No dia em que escrevo este texto a Hungria terminou a primeira fase da construção de um “muro” de cimento e arame farpado que separa este País da vizinha Sérvia, na fronteira entre a União Europeia e os Países candidatos a integrá-la.

 

No coração da Europa e com um silêncio e uma cumplicidade inaceitável de muitos dos seus líderes (e sejamos claros … com uma indiferença arrepiante de muitos dos seus cidadãos), está a nascer um monumento ao horror e um símbolo chocante do que nunca deveria voltar a ser a relação entre povos no Mundo em geral e no Continente Europeu em particular.

 

Ao mesmo tempo que o Primeiro-Ministro Húngaro Victor Orban e os seus aliados por ação ou omissão (em que se inclui o Governo Português, do qual não se ouviu um palavra ou um esboço de protesto pela “obra”) constroem o novo muro da vergonha, o mar mediterrânio transforma-se num cemitério quotidiano e os barcos ou os camiões “negreiros” voltam a cruzar as estradas e os oceanos comerciando agora com pessoas de todas as raças e credos, e com a sua ânsia legítima de realização, dignidade e felicidade.

 

O comportamento da Europa face às migrações mostra que a nossa cultura e a nossa identidade está à beira de um precipício. A fronteira entre a liderança europeia de uma nova era de paz, tolerância, respeito pelos direitos humanos e pelo planeta e o mergulho num tempo de escuridão e retrocesso é cada vez mais um caminho estreito.

 

Os gestos e as decisões nos próximos meses serão decisivos. Os gestos dos líderes e os gestos de cada um de nós nas escolhas democráticas que seremos chamados a fazer e na ação cívica que seremos desafiados para desenvolver.

 

Europa líder dum tempo de tolerância e desenvolvimento ou Europa mergulhada nas trevas da intolerância e do retrocesso? Os dois cenários são possíveis e cada um de nós com as suas escolhas e com o seu envolvimento é parte da decisão.

 

Somos protagonistas dum tempo extraordinário. Está nas nossas mãos tornar os muros naquilo que eles são. Aberrações que testemunham a vertigem do poder. Barreiras de iniquidade construídas para serem derrubadas. Para que democraticamente as derrubemos. 

 

 

 

               
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