Novo Ciclo
2015/10/06 19:15
| Diário do Sul, Fazer Acontecer
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As
portuguesas e os portugueses decidiram em 4 de Outubro retirar a confiança
absoluta para governar à coligação PSD/PP, mas não transferiram essa confiança
para o PS. No Alentejo, em contraste,
uma forte maioria de eleitores confiaram no PS.
Na
primeira crónica que escrevo depois das eleições legislativas, saúdo todos os
eleitores que usaram o seu direito democrático e felicito os vencedores, com enfase
particular para a constatação de que mais uma vez o Alentejo reconheceu o PS
como o Partido do Alentejo e dos Alentejanos.
Considero que as eleições de 4 de Outubro
foram as últimas que se realizaram com base nas dicotomias tradicionais
emergentes da Revolução de Abril. Na minha perspectiva, vencedores e vencidos pela
vontade popular terão que renovar o seu discurso, as suas propostas e a sua
forma de se inserirem na sociedade.
Falando do PS, representante da grande
corrente histórica social-democrata e humanista, a questão não se coloca apenas
no quadro nacional. É visível a necessidade de sincronização das suas mensagens
com os desafios dos tempos modernos, designadamente os desafios da sociedade
digital, das alterações climáticas e das migrações em massa.
Ao longo da campanha falei com muita gente.
Por vezes, quando a conversa se aprofundava um pouco, questionava sobre
referências. Mandela (infelizmente já desaparecido), Delors ou Francisco foram
os nomes que ouvi mais citados.
Pensar nestas figuras maiores como
referências para o desenho duma nova visão mobilizadora para a esquerda
humanista é um exercício interessante. O que significam Mandela, Delors e
Francisco? Tolerância, preocupação com as pessoas, vontade de combater
as desigualdades e reduzir a pobreza. Consciência dos desafios ambientais.
Visão, liderança e capacidade de comunicação pelo exemplo.
No momento em que escrevo estas linhas,
está agendado para depois das eleições presidenciais um Congresso electivo do
Partido Socialista. Essa marcação, face aos resultados de 4 de Outubro, é um
acto de grande maturidade política e uma enorme oportunidade de debate e
reflexão.
A escolha para o PS é complexa mas
importante para o Partido e para a sociedade portuguesa. Quer o PS ser a casa
comum da esquerda ou ser o partido da modernidade e das novas causas
progressistas na sociedade em mudança? A experiência mostra que o PS tem tido
mais aceitação dos portugueses quando se abre às causas da modernidade
aplicando-lhe a sua matriz e os seus valores. O Congresso é soberano. Para
um grande partido como o PS, o dia da derrota é o primeiro dia de preparação da
vitória seguinte.
Começou
um novo ciclo na vida política portuguesa. Tudo estará em reconfiguração. Tenho
grande esperança que no fim do processo estejamos mais fortes, mais solidários,
mais tolerantes e mais preparados para os desafios do século XXI.
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