Afinal o que é a UE? Uma pergunta simples de cuja resposta depende o futuro.
2017/04/15 10:08
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Por vezes no meio do ruído e da confusão é útil regressar às perguntas simples, como aquela que titula este texto. Vai animado, neste tempo de incerteza geoestratégica, o debate sobre a UE (União Europeia), o seu passado, presente e futuro e os múltiplos cenários possíveis para a sua evolução ou regressão. Mas afinal o que é a UE?
A primeira tendência que temos nos dias de hoje é usar um motor de busca que invariavelmente nos proporá como primeira opção a definição da Wikipédia - Enciclopédia Online que resulta de uma dinâmica colaborativa entre os utilizadores das redes.
Acabei de fazer a minha consulta e o resultado foi o esperado. A definição que me é proposta é que a União Europeia “é uma união política e económica de 28 Estados membros independentes situados principalmente na Europa”. Uma definição simples e que depois é completada por uma parafernália de dados geográficos, económicos, sociais, históricos e políticos, que a quase tudo respondem menos à pergunta - Afinal o que é a UE?
Num tempo de crise e indefinição, para quem com eu acredita que o mundo precisa de uma UE forte e coesa, mais importante que definir UE duma forma geral e concisa, é tentar perceber o que é a UE para cada um 500 milhões de cidadãos que a compõem e conseguir que ela seja entendida como algo positivo para a grande maioria deles. Essa é a condição básica de sobrevivência de uma União, que na sua essência é um exercício profundo de democracia.
Para muitas gerações de europeus, ainda recordados das guerras que dilaceraram o mundo em geral e a Europa em particular na primeira metade do Século XX a UE é um projeto de paz. A sucessão geracional e o passar do tempo tem vindo a reduzir o peso desta visão, que foi fundamental na sua conceção e desenvolvimento. Para outras gerações, que viveram décadas sobre regimes ditatoriais de matizes diversas, a UE é um projeto de Liberdade. A Liberdade é um valor supremo que muitas vezes se desvaloriza quando se atinge. A importância da liberdade na definição do que é a UE tem vindo a esfumar-se na memória de quem a dá, de forma precipitada, como adquirida.
Já não basta hoje proclamar mais e melhor UE para mobilizar para o projeto europeu a maioria dos cidadãos, mesmo que mais e melhor UE possa significar mais e melhor capacidade de evitar o retorno da guerra ou a usurpação da liberdade.
É preciso mais. Além de mais paz e liberdade, a UE tem de significar outras coisas positivas que tenham a ver diretamente com a vida quotidiana dos Europeus. Mais acesso à educação e ao conhecimento, à justiça, a um trabalho remunerado e digno, a serviços de saúde de qualidade, às redes e aos serviços digitais, a um ambiente com mais qualidade, a uma vida mais segura. Nas últimas décadas para muitos europeus, UE significou menos e não mais na sua perceção sobre aquilo lhes pode dar no dia a dia. Enquanto não for capaz de mudar este sinal na sua definição, a UE será um projeto indefinido, qualquer que seja a definição que escolhermos para a caracterizar.
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