Flagelação (partilha de uma inquietação)
2011/06/07 18:46
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O resultado das eleições legislativas de 5 de Junho pode ter muitas leituras, mas a que mais me inquieta é a significativa votação no programa socialmente insensível apresentado pelo PSD, em muitos concelhos e freguesias pobres com elevadas carências económicas e com redes de protecção social a rebentar pelas costuras.
Que os mais abastados neste tempo de dificuldades se mostrem menos solidários, pode ser pouco aceitável mas é normal e compreensível. Mais difícil de compreender é que populações que se queixam legitimamente da vida difícil, das imperfeições que ainda restam no acesso à saúde, da falta de lugar nos lares e nas creches públicas, dos baixos proventos das pensões ou dos custos indirectos da educação pública, premeiem com o seu voto não quem tudo fez e se propunha fazer para manter esses sistemas viáveis e funcionais num quadro muito difícil, mas antes quem assumiu a alienação dessa responsabilidade como uma linha política estruturante do seu programa.
Em democracia o povo tem a razão da escolha. Longe de mim fazer desta crónica um queixume contra as livres opções dos eleitores. Partilho antes uma certa inquietação. Fica claro que as mensagens tradicionais da esquerda como a defesa do estado social e da escola pública já não motivam alguns eleitorados tradicionais. Ou pelo menos, não motivam da forma como foram comunicadas nestas eleições pelo PS.
Porque escolheu parte do povo português mais desfavorecido a via da flagelação? Terá sido mais permeável a campanhas mediáticas demagógicas? Terá sucumbido à teoria da desculpa, ou seja á ideia de que é mais fácil reivindicar sobre quem nada quer dar do que sobre quem dá menos do que se quer ter? Terá simplesmente sido insensível às mensagens e às propostas solidárias tendo em conta as dificuldades acrescidas na sua concretização em tempos recentes?
Em boa verdade não sei a resposta, mas sei que a esquerda moderna e humanista em Portugal e na Europa têm que encontrar rapidamente uma nova narrativa e uma nova dinâmica de mobilização e envolvimento das pessoas, se querem estancar a erosão política que têm vindo a sofrer.
Não basta falar para as pessoas, nem mesmo governar para elas. Tem que ser possível construir com elas uma sociedade melhor. Essa é a chave do tempo novo. O tempo que virá depois de fechado o ciclo da crise económica, social e ética que corroeu o mundo neste início do século XXI.
PS: Obrigado aos eleitores do Distrito de Évora pela confiança maioritária de novo concedida ao PS. Parabéns ao PSD pela sua vitória no País. Votos das maiores felicidades ao futuro Governo de Portugal.
Que os mais abastados neste tempo de dificuldades se mostrem menos solidários, pode ser pouco aceitável mas é normal e compreensível. Mais difícil de compreender é que populações que se queixam legitimamente da vida difícil, das imperfeições que ainda restam no acesso à saúde, da falta de lugar nos lares e nas creches públicas, dos baixos proventos das pensões ou dos custos indirectos da educação pública, premeiem com o seu voto não quem tudo fez e se propunha fazer para manter esses sistemas viáveis e funcionais num quadro muito difícil, mas antes quem assumiu a alienação dessa responsabilidade como uma linha política estruturante do seu programa.
Em democracia o povo tem a razão da escolha. Longe de mim fazer desta crónica um queixume contra as livres opções dos eleitores. Partilho antes uma certa inquietação. Fica claro que as mensagens tradicionais da esquerda como a defesa do estado social e da escola pública já não motivam alguns eleitorados tradicionais. Ou pelo menos, não motivam da forma como foram comunicadas nestas eleições pelo PS.
Porque escolheu parte do povo português mais desfavorecido a via da flagelação? Terá sido mais permeável a campanhas mediáticas demagógicas? Terá sucumbido à teoria da desculpa, ou seja á ideia de que é mais fácil reivindicar sobre quem nada quer dar do que sobre quem dá menos do que se quer ter? Terá simplesmente sido insensível às mensagens e às propostas solidárias tendo em conta as dificuldades acrescidas na sua concretização em tempos recentes?
Em boa verdade não sei a resposta, mas sei que a esquerda moderna e humanista em Portugal e na Europa têm que encontrar rapidamente uma nova narrativa e uma nova dinâmica de mobilização e envolvimento das pessoas, se querem estancar a erosão política que têm vindo a sofrer.
Não basta falar para as pessoas, nem mesmo governar para elas. Tem que ser possível construir com elas uma sociedade melhor. Essa é a chave do tempo novo. O tempo que virá depois de fechado o ciclo da crise económica, social e ética que corroeu o mundo neste início do século XXI.
PS: Obrigado aos eleitores do Distrito de Évora pela confiança maioritária de novo concedida ao PS. Parabéns ao PSD pela sua vitória no País. Votos das maiores felicidades ao futuro Governo de Portugal.
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