Porque falha o Governo
2014/04/05 09:04
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Considerando todos os indicadores
obtidos, só forte enviesamento ideológico (que só não é legitimo porque não foi
anunciado antes das eleições e portanto não foi sufragado pelos portugueses) pode
permitir considerar que o governo não falhou.
Para os desempregados, os emigrantes
forçados, os que vêm reduzidos os seus salários e pensões, os que pagam cada
vez mais impostos, os que têm cada vez menos procura para os seus negócios, os
que tem cada vez mais dificuldade em aceder aos cuidados de sade, os que
ensinam com cada vez menos condições´, não restam dúvidas que o Governo falhou.
Num estudo de opinião recente o Governo é considerado mau ou muito mau por 70%
dos portugueses.
Mas onde falha o Governo? Certamente desde
logo nos seus objetivos e valores e na falta de sensibilidade social. Disso
resultam prioridades para a consolidação económica. É desse pilar do falhanço que
quero falar neste texto.
O Governo confronta os portugueses com
uma falsa dicotomia. Segundo os seus porta-vozes para reduzir o deficit ou é
preciso cortar na despesa (normalmente nos rendimentos e serviços para os mais
desprotegidos) ou aumentar os impostos. É um discurso contabilístico que
esquece a economia, sendo que é na economia que está o segredo.
Vou usar um exemplo simples.
Recentemente visitei as duas fábricas da Embraer em Évora. É um investimento
extraordinário e tecnologicamente avançado. A Embraer e a sua rede de fornecedores
e colaboradores permite ao Estado Português cobrar mais impostos sem aumentar
os impostos. São os impostos saudáveis que uma economia a mexer gera.
Ao mesmo tempo ao criar postos de
trabalho qualificados a Embraer e a sua rede de proximidade evita que o Estado
tenha que pagar subsídios de desemprego ou outros a muita gente e com isso
reduz a despesa.
Este pequeno exemplo serve apenas para ilustrar
que a escolha não é entre mais austeridade, pela via do corte da despesa ou do
aumento dos impostos.
Considero que a carga fiscal atingiu há
muito o limiar do aceitável. A despesa pode ser ainda racionalizada sobretudo através
dum melhor funcionamento da administração e de maior capacidade de regulação dos
sistemas financiados pelo dinheiro público.
A palavra-chave é no entanto outra.
Portugal precisa de mais economia. Teremos em breve mais um pacote de fundos
estruturais. Apostemos em apoiar as empresas competitivas e em atrair novas
empresas, dando-lhe garantias de uma sociedade saudável e capaz de voltar a
apostar no conhecimento e na modernidade. Se assim fizermos, a austeridade
patológica ficará como um capítulo negro da nossa história mas desanuviará o
nosso presente e o nosso futuro.
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