Fronteiras
2015/09/13 11:34
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O mundo mudou. As novas tecnologias de comunicação, as redes de
transportes cada vez mais densas e rápidas e a circulação global de imagens,
notícias e mercadorias criam a ilusão de um mundo sem fronteiras. No entanto,
desvanecida a ilusão, confrontamo-nos com fronteiras físicas, económicas e
culturais mais fortes de que nunca.
As últimas semanas mostraram de novo como a humanidade consegue erguer
(e também desfazer) muros físicos para impedir que gente desesperada encontre
acolhimento e refúgio.
Por detrás desses muros físicos estão outros muros. O muro da
intolerância religiosa, o muro das desigualdades e da pobreza, o muro do não acesso
aos direitos humanos e à liberdade de expressão, o muro das catástrofes
climáticas provocadas pelo aquecimento global e o muro das assimetrias de
desenvolvimento entre territórios.
Mais do que fugir do cerne do desafio com visões nacionalistas e
populistas ou com saudosismos de amanhãs que já não cantam, a humanidade tem
que encontrar novas respostas e novas soluções.
O fenómeno que aconteceu na Europa, com a cidadania ativa a forçar os
líderes a mudar a abordagem em relação com os refugiados é extraordinário e
deixou claras também as fronteiras entre as democracias maduras e mais
tolerantes e outras ainda esqueléticas e traumatizadas, que convivem no quadro
da União Europeia. O exemplo do muro de atitude entre a Hungria e a Áustria é
tão marcante como o muro de betão entre a Hungria e a Sérvia.
O caso Húngaro merece profunda reflexão. Um País que várias vezes
ocupado no século XX (e antes embora noutros contextos históricos e
territoriais) sempre foi apoiado pela comunidade internacional, está agora
subjugado por um populismo doentio e egocêntrico impróprio dos valores de
modernidade e tolerância que definem a matriz da União Europeia (UE). Impõe-se
aliás uma reflexão. Se um País pode ser fortemente penalizado por não cumprir
as princípios económicos comuns que regem a comunidade em que se inseriu, por
que razão fica incólume ao não cumprimento dos valores e princípios dessa
comunidade. Por muito menos do que faz agora a Hungria de Orban, foi penalizada
durante a Presidência Portuguesa de 2000 a Áustria de Haider.
Com uma reação concertada entre vários Países, com a solidariedade de
muitos cidadãos europeus e com as atitudes firmes e corajosas do Parlamento
Europeu e da Comissão Europeia, o muro de insensibilidade em relação aos
refugiados e migrantes que fogem das guerras civis para a União Europeia irá
ser desmontado tijolo a tijolo. Mas as outras fronteiras permanecem. A
intolerância, a desigualdade, a pobreza, a desertificação, o avanço das águas
do mar e a negação dos direitos. Também estas fronteiras têm que ser
progressivamente destruídas. Elas são a gangrena da humanidade no século XXI
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