Marca de Água
No final do século passado era consensual que o acesso à água seria a questão central na definição geopolítica dos nossos tempos. Depois disso, vimos como a energia e a transformação digital ocuparam os cenários e as projeções e tomaram o centro dos debates, mas isso não apagou a “Marca de Água” subjacente à generalidade dosconflitos regionais e globais. Uma marca que que desagua nas alterações climáticas e nas desigualdades, constituindo um risco maior para o futuro da humanidade.
Aquilo que pode ser constatado como grande tendência global, tem igual pertinência quando se analisam as estratégias territoriais. Usando o caso do Alentejo, que acompanho com mais proximidade, parece-me claro que tendo em conta todo o seu contexto, história, identidade, potencial e fragilidades, o caminho do futuro tem que ser construído com foco nas pessoas e na sua qualidade e dignidade de vida e assente num triângulo estratégico que combine a energia, o digital e a água.
Sabendo o que somos e o que queremos, temos que potenciar as dinâmicas económicas e sociais usando as nossas capacidades para produzir energia limpa e competitiva, digitalizar e integrar procedimentos e gerir a água de forma sustentável.
Este caminho de desenvolvimento permitirá melhores condições de vida, fixação e atração de pessoas, criação de valor e de emprego, fortalecimento das redes comunitárias e melhor acesso aos bens e serviços que devem ser universais, em particular à educação, à saúde, à segurança e à habitação.
Dito de outra forma, temos que na nossa região que apostar cada vez mais no que é essencial para a capacitação, para a produção e para a fruição e saltar para um novo patamar de desenvolvimento através da aplicação de estratégias e políticas transversais para a energia, para a digitalização e para a gestão da água. O que antes escrevi está plasmado nos grandes documentos estratégicos e nos fundos disponíveis para a próxima década. Foi também o mote do recente Governo aberto no distrito de Évora.
As disputas pela água já se vão sentindo um pouco por todo o Alentejo, em particular nos sistemas agrícolas. Temos que avançar inspirados pela marca de água no seu duplo sentido. Pela “marca de água” que resulta da importância da água, juntamente com aenergia e o digital, no triângulo do desenvolvimento e da transformação, e pela “marca de água” seminal, porque sem acesso suficiente à água tudo o resto vai “por água a baixo”, como podemos constatar em tantos territórios e regiões do globo já tomadas pela seca e pelas suas terríveis consequências.