Espírito de Comunidade
Nas suas diversas formas e dimensões, as comunidades de valores e objetivos partilhados são cada vez mais importantes para combater o individualismo, o espírito de seita e a fragmentação que vai esfarelando o mundo em que vivemos.
Numa das últimas nas últimas missões que realizei a África visitei uma grande empresa portuguesa que está a construir uma infraestrutura estratégica num dos países africanos com maior dinâmica de desenvolvimento. Chamou-me particularmente à atenção o princípio de comunidade de empresa prevalecente, que visando integrar cada vez mais trabalhadores locais, não quis deixar de marcar a diferença e a identidade como empresa lusófona. Lusófona, porque a dificuldade de recrutamento de trabalhadores portugueses especializados, tão importantes e tão escassos para dar resposta ao que há para fazer em território nacional e nos mercados limítrofes, a levou a complementar o núcleo central de colaboradores portugueses com a contratação de trabalhadores nos países de língua portuguesa; essencialmente Brasil, Angola, Moçambique e Cabo Verde, mas também Guiné, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste para garantir a robustez estrutural da comunidade com base em valores e princípios comuns.
Este exemplo do quotidiano ajuda a explicar a importância que pode ter para todos nós, europeus, a criação de uma Comunidade Política Europeia, inicialmente proposta pelo Presidente Francês Macron e que teve a sua primeira reunião informal em Praga no dia 6 de outubro. Na cimeira participaram os 27 Estados membros da União Europeia e ainda outros 17 Estados Europeus totalizando 44 países participantes. Acredito que mais cedo do que tarde, derrotada a febre imperialista russa que tolhe aquele País e alguns aliados próximos de se integrarem no espírito europeu e na defesa conjunta dos interesses do Continente na nova ordem global, mais países do Continente possam participar, com soberania e autonomia, nesta nova comunidade de diálogo e cooperação.
Tal como uma empresa com identidade e responsabilidade social tem tudo a ganhar em funcionar como uma comunidade de valores e de cooperação, em torno de objetivos gerais partilhados, também um continente necessita de desenvolver essa perspetiva, num tempo em que muitos dos desafios, ameaças e oportunidades não respeitam fronteiras e exigem respostas fortes e articuladas.
Muitos dos 44 países presentes em Praga gostariam de ser membros da União Europeia. Pouco a pouco alguns acabarão por sê-lo. O facto de 44 países Europeus quererem partilhar um espírito de comunidade é um importante passo em frente