Assim Falou Francisco
2014/12/06 15:49
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Quem fala quando o Papa fala?
Para os crentes será o Senhor do Universo (cujo nome não quero invocar em vão)
quem através dele se pronuncia. Para um ateu ou um agnóstico é apenas um homem
distinto que fala. A verdade é que o discurso que Francisco pronunciou em
Estrasburgo perante os Deputados Europeus no dia 25 de Novembro foi um momento
de grande inspiração e lucidez.
Em primeiro lugar Francisco não
escamoteou o essencial. O sentido da vida em sociedade é proporcionar a
dignidade da pessoa humana. O homem não é dono do Planeta nem das coisas
materiais. Recebeu o dom da vida e deve preservar esse dom quer no plano
material quer no plano espiritual. Por isso Francisco defendeu as energias
limpas e a capacidade de manter o ecossistema saudável.
E sempre com as pessoas no centro
apelou ao combate à solidão. Mais uma vez um combate espiritual para quem fizer
essa escolha, mas também um combate político, traduzido no apoio à família, no
respeito pelos mais idosos e no acesso ao trabalho por parte dos mais jovens.
Num tom jovial Francisco não usou
a culpa mas o desafio para mobilizar os Europeus para a mudança. Os culpados
desculpam-se. Os empenhados fazem acontecer. A Europa não pode continuar a ser
uma “Avó pouco fecunda” e entristecida por se ter esquecido de criar condições
para os seus filhos crescerem saudáveis e felizes e por isso mesmo se sentirem
confiantes para gerarem os netos portadores da linha da vida.
Com a mesma bonomia sapiente,
Francisco apelou à convivência dos povos e à integração dos imigrantes.
Rebelou-se contra o dogma da economia e apelou a uma sociedade de comunhão,
partilha e respeito pelo semelhante.
Nesta breve síntese da Fala de
Francisco falta anda um ponto crucial. O apelo a que a Europa recupere a sua
identidade e a sua força iluminadora no quadro da globalização. Sem centrismos
mas com valores. Com humanismo e dignidade. Com orgulho e sentido das
prioridades.
No dia seguinte no Parlamento
Europeu Juncker apresentou o seu Plano de Investimento. Inspiração papal só se
for na robustez aparente da multiplicação do pouco dinheiro fresco colocado na
economia. É caso para dizer que está tudo trocado. É Francisco que acredita no
poder dos homens e são os homens que parecem acreditar no poder dos “milagres”.
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