S.João (Com Vagar)
Embora o vírus continue a travar a sua batalha de persistência e nos mantenha sob tensão e cuidado permanente, o sentido social e a necessidade de encontro e partilha irromperam com força na nossa sociedade e fizeram regressar com grande fulgor as festas e romarias, os concertos, as mostras, as feiras, as celebrações académicas e tudo aquilo que fomos obrigados a colocar na gaveta, no computador ou atrás da máscara nos dois últimos anos.
Recordo-me que quando no inicio de março de 2020 começámos a perceber a dimensão brutal da pandemia, uma das apostas que se ia fazendo era se seria ou não possível vencê-la a tempo de em Évora se realizar a Feira de S. João, que além das múltiplas atrações e atividades lúdicas e comerciais, é um ponto de encontro dos que foram ficando por estas terras do Alentejo, os que para cá têm vindo e os que dela foram abalando pelas circunstâncias da vida.
Quando, para nos animarmos uns aos outros, íamos dizendo naquele alvor do ano de 2020 que nos voltaríamos a encontrar para celebrar a vida, a saúde e a liberdade pelo S. João, poucos estavam a imaginar que isso aconteceria sim, mas no S. João de 2022.
A minha perceção, nos eventos de massas em que pude participar desde que regressaram, é que para a maioria de nós ainda há uma linha psicológica a transpor, a partir da qual espero que possamos recuperar uma sociabilidade saudável e que nos ajude a ultrapassar os tempos difíceis que vivemos e teimam em persistir, agora com os fantasmas a chegarem também do impacto da economia de guerra, e da respostanecessária para ajudar a conter a invasão da Ucrânia e a derrotar quem a perpetrou.
A Feira de S. João de 2022 realiza-se sob o Tema da “Candidatura a Capital Europeia da Cultura”. Évora é uma das cinco cidades portuguesas finalistas na candidatura aCapital Europeia da Cultura 2027 e atingiu este patamar através de um conceito muito fecundo - o vagar, ou seja, a vaga que penteia a planície, afaga o casario, acalma os dias e dá textura e identidade à forma de se ser alentejano.
É com vagar que temos que voltar à Feira para melhor a saborear. É já que a Feira voltou devagar e em nome de uma candidatura que celebra o valor do tempo na maturação da cultura, que não se perca a oportunidade de fazer dela um manifesto profundo, sentido e partilhado pela paz, porque só mereceremos ser Capital Europeia da Cultura se formos inequívocos na defesa dos valores europeus traduzidos numa cultura de liberdade, de democracia e de respeito pelo direito dos povos à sua soberania