Visto de Casa (25/04)
2020/04/25 10:22
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Depois de quarenta dias de confinamento chegou o dia da liberdade. Não o ansiado dia da vitória contra o vírus, mas o dia da memória da vitória contra a ditadura.
“Onde é que você estava no 25 de abril?”. Esta pergunta imortalizou o jornalista Baptista Bastos, entretanto falecido. Hoje assinala-se o 25 de abril de 1974. Muitos dos que me leem ainda não eram nascidos. Outros eram bebés ou crianças.
Para a minha geração, que estava a despertar para a adolescência em 1974, a alvorada da democracia e a sua posterior consolidação, com a aprovação de uma constituição plural e a realização de eleições livres, foi o momento político e social mais marcante das nossas vidas.
Daqui a uns anos quando alguém nos perguntar onde estávamos no 25 de abril, a resposta será dupla. No de 1974 fomos para a rua celebrar a liberdade, no de 2020 ficámos em casa a defendê-la.
A revolução libertadora de abril de 1974 é certamente avaliada de forma diferente por cada um de nós,usando a pluralidade que ela nos deu, mas na minha geração nenhum outro acontecimento em Portugal marcou tanta gente e de forma tão profunda como o dia que hoje assinalamos.
Onde é que eu estava no 25 de abril? Tinha 14 anos e estava em Luanda, Angola, onde o meu pai, militar de carreira cumpria mais uma Comissão de Serviço. Pela hora de almoço disse-nos que chegavam sinais de um golpe das forças mais à direita do regime, chefiado por Kaúlza de Arriaga. Estava preocupado e eu sem ter grande formação política à data também fiquei. Ao fim da tarde, quando voltou vinha mais feliz. Era o despontar da democracia
Depois disso tenho vivido uma vida intensa, que talvez ainda viesse a dar um livro, não se desse o caso de os livros estarem a passar de moda. A minha vida cívica éfilha de abril.
E vocês? Onde estavam no 25 de abril? Onde estariam se não tivesse havido o 25 de abril? Num dia queacordou lazarento, mas não impedirá que muito se juntem para cantar a Vila Morena que nos embalou, as circunstâncias apelarão a uma comemoração interior. Naquele dia, a devolução da liberdade bifurcou o futuro e mudou o trilho. Pensem nisso e na sua analogia com o que agora nos está a acontecer.
Onde estamos em 25 de abril de 2020? No meio de umturbilhão onde se começam a abrir veredas de esperança e de escolha. Teremos que fazer opções. Passaremos, com dúvidas, polémicas, lutas e tensões, para um outro patamar e para outros referenciais nas nossas vidas.
As escolhas que fizermos agora vão determinar a resposta que daremos no futuro, quando nos perguntarem onde estávamos no 25 de abril de 2020. 25 de abril sempre, embora amanhã seja 26. Muita saúde para todos.
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