Instinto de Sobrevivência
2013/07/06 13:08
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Nos tempos complexos que hoje vivemos o
instinto de sobrevivência é uma característica fundamental de qualquer político
que ambicione estar na primeira linha da representação democrática. Sem ele teríamos
situações incontroláveis de rotação e desistência e a ação política
acrescentaria o caos ao caos destruindo os fundamentos do regime democrático.
No momento em que escrevo este texto
tenho que reconhecer que Paulo Portas e Passos Coelho mostraram ter elevado
instinto de sobrevivência. Lutam denodadamente e sem quartel pela manutenção do
poder, agarrados a esse poder que nem lapas, num caso por teimosia pessoal e
noutro por indução de grupo.
Mas tal como segundo rezam as crónicas
médicas, não havendo vida saudável sem colesterol no sangue, existe bom e mau
colesterol, também não havendo política saudável sem instinto de sobrevivência,
há bom e mau instinto de sobrevivência.
O mau instinto de sobrevivência é
auto-centrado. Paulo e sobretudo Pedro têm-se preocupado em salvar a própria
pele, em manterem-se á tona dos seus partidos e a evitar umas eleições
clarificadoras que permitiriam iniciar um novo ciclo no ajustamento de Portugal
aos desafios da moeda única.
O bom instinto de sobrevivência tem sentido
de estado e foca-se no serviço aos outros e no interesse geral. Os bons
políticos têm instinto da sobrevivência deles próprios, mas têm sobretudo
instinto de sobrevivência das comunidades que lideram e dos povos que neles
confiaram.
Não me parece que Portas e sobretudo
Passos tenham tido esse instinto. Afinal Coelho apressou-se a confirmar que a
substituição de Gaspar por Maria Luis Albuquerque era um sinal de continuidade.
Ora continuidade nas políticas significa desastre nacional e falhanço acrescido.
O instinto de sobrevivência de Passos
Coelho é puramente pessoal e do seu grupo de interesses. O instinto de Portas
parece menos sectário mas não resistiu aos cantos de sereia dos instintos
pessoais dos seus correligionários.
Estamos assim todos dependentes de um
outro instinto. Do instinto presidencial. Dele se espera por natureza que seja
fundado no interesse geral e não na imagem ou nos preconceitos pessoais, mas
nem sempre tem sido assim. A esperança contudo deve ser a última a morrer. Que
tenha bons instintos, Sr. Presidente.
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