Heróis do Mar
O alvor de 2021 trouxe um alívio e uma esperança inusitada, mas compreensível, tendo em conta as circunstâncias e as dificuldades inesperadas de que 2020 foi portador. A viragem do ano sempre teve um enorme simbolismo. Um simbolismo que pode determinar atitudes, mas que não muda nada por passe de mágica ou por conjunção astrológica episódica. Com a esperança, chegou também o medo de que ela não se concretize com a pujança e a velocidade que ambicionamos. Temos que ser todos protagonistas do combate que transformará a esperança legítima numa realidade efetiva.
O arranque de 2021 marcou também o inicio da quarta presidência portuguesa da União Europeia (UE). Nas últimas semanas de 2020, já com Portugal fortemente imbrincado na transição e na preparação da sua presidência em articulação com a Presidência Alemã, alguns dossiers chave para o futuro da União tiveram assinaláveis progressos. A “Bazuca” de recuperação e transformação foi aprovada, um acordo para o relacionamento com o Reino Unido pós saída da UE foi alcançado e o plano solidário e coordenado de vacinação arrancou.
Portugal revelou nas suas anteriores presidências e ao longo da sua história uma rara capacidade de se transcender quando chamado a desempenhar missões complexas que exigem diálogo, compreensão de diferentes perspetivas e determinação na aplicação dos compromissos atingidos. É por isso grande a confiança que tenho sentido, quer interna quer externamente, na capacidade de Portugal levar a “Carta a Garcia” nos próximos seis meses.
É uma carta que dispensa palavreado e retórica, mas tem que ser o guião e o mandato para muita ação, desde logo para concretizar os planos de vacinação em toda a UE e também os planos solidários com outras partes do mundo, ajudando a libertar o mundo da peste que o assola. Depois, para começar a aplicar com eficácia, transparência e coordenação os fundos comunitários e os fundos europeus alocados aos planos nacionais de recuperação.
Cumprir este mandato será por si só escrever uma grande página nos anais da nossa participação no projeto europeu. Mas Portugal quer mais, como o anunciou o seu governo. Quer colocar na carta o selo da dimensão social nas políticas e o selo do multilateralismo nas relações internacionais. Para isso a Cimeira Social do Porto e as Cimeiras UE - África e UE-India serão determinantes. 2021 é ano de grande desafio. Para Portugal é um ano de desafio ainda maior. Voltaremos a ser “Heróis do Mar” na descoberta de um Porto seguro para o nosso País e para a parceria em que nos inserimos.