Contrato Falhado (O Golpe Comunista de 91, a Reunificação e a Moeda Única)
2011/08/19 10:37
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Escrevo este texto no dia em que faz vinte anos do último estertor do comunismo soviético, com o golpe corajosamente rechaçado por Boris Yeltsin na Praça Vermelha. A partir desse momento a Europa passou a viver um forte dilema. Era fundamental manter o equilíbrio político e militar que valera décadas de paz e prosperidade, mas não se podia condenar eternamente a Alemanha a uma divisão artificial e contranatura nem os múltiplos Países da cortina de ferro a uma discriminação por aquilo que não tinham democraticamente desejado.
Este Dilema foi ultrapassado com grandeza por dois grandes Estadistas, Helmut Koln e François Mitterand, num contrato não escrito mas bem visível para todos os que seguem com atenção a geopolítica mundial. Um contrato equilibrado e ambicioso mas que infelizmente a Chanceler Angela Merkel tudo tem feito para rasgar com a cumplicidade acabrunhada de Nicolas Sarkozy.
Sendo um contrato não escrito, rasgá-lo significa sobretudo uma deriva ética e não pode ser passível doutro julgamento do que duma apreciação moral e política. É apenas isso que pretendo fazer neste texto.
Mas afinal que contrato implícito é esse? O contrato óbvio em que a União Europeia apoiou e em larga medida financiou a reunificação alemã, tendo por contrapartida o compromisso solidário da Alemanha na afirmação da moeda única e na compensação das assimetrias com que muitos países partiam para esse projecto comum.
Este acordo implícito foi o pilar do aprofundamento da União Europeia e o seu rompimento na abordagem da crise grega convocou todos os fantasmas que agora ameaçam o projecto europeu e que tem merecido críticas lancinantes de homens de têmpera como Koln e Delors.
Angela Merkel veio do outro lado da barricada. Para um alemão do leste a reunificação era um legítimo direito e uma urgência absoluta. Compreendo que a Chanceler se sinta menos amarrada ao acordo de cavalheiros que permitiu a reunificação e o alargamento, mas a posição a que se alcandorou deveria obrigá-la a ter memória e a fazer uma pedagogia de equilíbrio em vez da pedagogia da força, da inflexibilidade e dúvida quanto ao projecto europeu.
Como o acordo implícito nunca foi explicitado em documentos oficiais e como a relação de forças é hoje pouco favorável aos países mais prejudicados com a sua não concretização em absoluto, poucas têm sido as vozes a recordar este contexto. O espaço para a negação e para o desmentido é aliás enorme.
No entanto ao recordar esta manhã os acontecimentos da Praça Vermelha de Agosto de 1991, não pude deixar de fazer um rápido “flash back” e recordar este acordo implícito nas memórias que antecipam a reunificação alemã e os primórdios da moeda única.
E se como diz a canção, recordar é viver, talvez neste caso recordar possa ajudar a mobilizar cada vez mais gente a lutar por aquilo que faz sentido. Uma Europa unida, comprometida e solidária social, económica e politicamente.
Este Dilema foi ultrapassado com grandeza por dois grandes Estadistas, Helmut Koln e François Mitterand, num contrato não escrito mas bem visível para todos os que seguem com atenção a geopolítica mundial. Um contrato equilibrado e ambicioso mas que infelizmente a Chanceler Angela Merkel tudo tem feito para rasgar com a cumplicidade acabrunhada de Nicolas Sarkozy.
Sendo um contrato não escrito, rasgá-lo significa sobretudo uma deriva ética e não pode ser passível doutro julgamento do que duma apreciação moral e política. É apenas isso que pretendo fazer neste texto.
Mas afinal que contrato implícito é esse? O contrato óbvio em que a União Europeia apoiou e em larga medida financiou a reunificação alemã, tendo por contrapartida o compromisso solidário da Alemanha na afirmação da moeda única e na compensação das assimetrias com que muitos países partiam para esse projecto comum.
Este acordo implícito foi o pilar do aprofundamento da União Europeia e o seu rompimento na abordagem da crise grega convocou todos os fantasmas que agora ameaçam o projecto europeu e que tem merecido críticas lancinantes de homens de têmpera como Koln e Delors.
Angela Merkel veio do outro lado da barricada. Para um alemão do leste a reunificação era um legítimo direito e uma urgência absoluta. Compreendo que a Chanceler se sinta menos amarrada ao acordo de cavalheiros que permitiu a reunificação e o alargamento, mas a posição a que se alcandorou deveria obrigá-la a ter memória e a fazer uma pedagogia de equilíbrio em vez da pedagogia da força, da inflexibilidade e dúvida quanto ao projecto europeu.
Como o acordo implícito nunca foi explicitado em documentos oficiais e como a relação de forças é hoje pouco favorável aos países mais prejudicados com a sua não concretização em absoluto, poucas têm sido as vozes a recordar este contexto. O espaço para a negação e para o desmentido é aliás enorme.
No entanto ao recordar esta manhã os acontecimentos da Praça Vermelha de Agosto de 1991, não pude deixar de fazer um rápido “flash back” e recordar este acordo implícito nas memórias que antecipam a reunificação alemã e os primórdios da moeda única.
E se como diz a canção, recordar é viver, talvez neste caso recordar possa ajudar a mobilizar cada vez mais gente a lutar por aquilo que faz sentido. Uma Europa unida, comprometida e solidária social, económica e politicamente.
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