A vitória do Medo (A direita não dá abébias)
2015/05/10 20:34
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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O Partido Conservador venceu com maioria
absoluta as eleições no Reino Unido. Foi uma vitória democrática, conseguida
num sistema eleitoral discutível mas democrático e que lhe atribui em plenitude
um mandato democrático de governação.
Acredito que os meus leitores estranhem
que num só parágrafo tenha sublinhado três vezes o caracter democrático da
vitória dos conservadores. Faço-o para poder seguidamente utilizar, ao
reconhecer sem reservas a democracia da escolha, o meu direito democrático de qualificar
e analisar os resultados. A vitória dos conservadores no Reino Unido fintou as
previsões e as sondagens e atingiu a dimensão que atingiu, porque o medo de
mudar venceu o desejo de mudança.
Na campanha eleitoral assistimos a uma
pressão brutal da imprensa e das forças da direita neoliberal jogando todos os
trunfos – o trunfo da secessão, o trunfo da instabilidade, o trunfo da
soberania e até o trunfo da autonomia no controlo das fronteiras.
De alguma forma, a narrativa neoliberal tem
vindo a conseguir que os eleitores interiorizem que votar à direita é natural e
votar à esquerda é perigoso. No Reino Unido esta receita deu resultado e as
consequências estão à vista.
Nos próximos anos a União Europeia
viverá coxa, com uma grande potência com um pé fora e outro dentro, e com uma
parte de si mesma (A Escócia) pronta a substituir o todo, se ele decidir sair
da União. Este contexto vai aliás levar em minha opinião a que também por medo,
a maioria dos ingleses opte por continuar na União Europeia na sequência do
prometido referendo.
O neoliberalismo é uma rede entranhada
entre os interesses económicos e financeiros e a sua representação política. Em
contrapartida, as forças do centro esquerda não têm conseguido consolidar uma
rede alternativa. Cameron contou com o apoio mais ou menos encapotado da sua
família de interesses. Miliband pelo contrário pelejou sozinho, com alguma
esquerda europeia a acusá-lo de ir longe de mais nos valores e propostas que
defendeu e outra a considerá-lo frouxo e pouco ousado. Dividida, a esquerda
deixou-se derrotar pelo medo dos cidadãos que querem optar por narrativas
fortes e consistentes.
O quadro político em que se vão disputar
as eleições na Península Ibérica é muito diferente daquele em que se disputaram
as eleições inglesas. Mas as forças do medo também aqui se farão sentir. O
desejo de mudança vai-se confrontar com as ameaças e os fantasmas dos que estão
agarrados aos interesses como lapas. É preciso por isso aprender a lição. A
direita não dá abébias. A esquerda se quer ganhar também não as pode dar.
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