Visto de Casa 17/03
2020/04/10 17:49
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Quem me conhece sabe que sou empático, exceto quando estou, e algumas vezes estou, na lua. Gosto de cumprimentos efusivos, de abraços e de beijinhos. Há umas semanas a esta parte deixei do o fazer ou aceitar. Quando tenho contactos sociais inevitáveis mantenho a distância para me proteger, mas sobretudo para proteger os outros e não correr riscos de contribuir para as cadeias de transmissão. Ontem fizeram chegar a uma pessoa próxima a mensagem de que eu estava mais antipático. Pois estou. O que nunca pensei foi que isso fosse um elogio. Sinal dos tempos.
Uma outra nota pessoal. Não sou muito atento ao meu corpo. Uso-o e respeito-o, mas muitas vezes esqueço-o. Passei a ouvi-lo com muito mais atenção. A estar atento a cada respiração, a cada sensação. Foi como se tivesse reencontrado um velho amigo. Sinal dos tempos.
Entretanto aconteceu o inevitável. Morreu o primeiro doente infetado com coronavírus em Portugal. A taxa de infeções tem vindo a subir com uma regularidade matemática. Cada dia temos um acréscimo igual a metade do total do dia anterior. Não nos esqueçamos que este vírus é de incubação lenta. O que se identifica num dia reflete o que aconteceu vários dias antes. Tenhamos, pois, a esperança de que em breve a curva de novos infetados comece a baixar a cabeça e a curva de curados a levantá-la. Quando se encontrarem, uma a descer e a outra a subir, entraremos numa nova fase de esperança no controlo do surto.
O que conseguirmos será o resultado de uma cadeia de esforços que começa em cada um de nós. No Visto de ontem escrevi sobre a deficiente coordenação europeia. Alguns passos positivos foram dados, entretanto, na gestão de fronteiras, assegurando o fluxo de bens e serviços e reduzindo o fluxo de pessoas ao essencial e o Eurogrupo reconheceu que a situação de isolamento forçado tem um impacto para a economia semelhante a um “tempo de guerra” criando um “estado de emergência” que impõe “uma resposta política coordenada”.
As medidas ontem aprovadas são um sinal positivo ainda que insuficiente para a dimensão do desafio. Importa avançar já com estas medidas e pressionar por mais ambição. Passar das palavras aos atos de imediato é fundamental para evitar que a crise sanitária conjugada com a crise económica, tenham efeitos multiplicadores incontroláveis.
Um oportuno manifesto de 14 académicos portugueses ontem divulgado identificou com grande oportunidade o problema e o caminho para o enfrentar. Temos que nos reinventar para vencer. Reinventemos-mos mais fortes. Até amanhã e saúde para todos.
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