Sol e Sul
No Hemisfério Norte, muitos daqueles que podem fazer férias fora das suas terras, aproveitam o estio para migrar a sul em busca de águas tépidas, paisagens novas, culturas diferentes, animação ou repouso.
É provável que as alterações climáticas agressivas venham a mudar progressivamente este padrão, tal como têm vindo a transformar o padrão das migrações para norte de um numero crescente de refugiados climáticos, por ação direta das secas e das cheias, ou por ação indireta dos conflitos e da violência que elas provocam.
Depois de um foco quase único no apoio à liberdade e à soberania na Ucrânia, a União Europeia voltou-se na terceira semana de junho para sul, dando um sinal de compreensão afinada da nova geopolítica global.
A melhor resposta para as crises que vivemos é a abordagem multilateral envolvendo todos e neste caso particular, o grande sul como parte da solução para os seus próprios problemas e para os problemas do mundo. Aprofundar as suas relações com o Sul é também uma forma eficaz e efetiva da União Europeia promover uma frente alargada de apoio à liberdade e à soberania dos povos, com impactos muito favoráveis no apoio àUcrânia.
Na União Europeia a sensibilidade para o Grande Sul varia muito de Estado-membro para Estado -membro. A viragem diplomática que permitiu a realização, após oito anos de interrupção, da Cimeira UE/CELAC que juntou em Bruxelas os 27 países da União Europeia e os 33 países da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos e desbloquear à sua margem o acordo de Pós-Cotonu que agrega os 27 países da União e 79 países de África, Caraíbas e Pacífico, não foi alheia ao facto de termos agora a Espanha na Presidência do Conselho da União Europeia. As negociações de Pós-Cotono foram aliás concluídas na Presidência portuguesa de 2021, tendo-se arrastado a entrada em vigor até agora por chantagens várias e empenho frágil das Presidências que se seguiram.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou recentemente, referindo-se em particular a África, que “uma parte da Europa não compreende África ... porque nunca teve a experiência de África”. O que Marcelo disse para África é válido para também para a América Latina, para as Caraíbas e para o Pacífico.
Não é este o espaço para qualificar a “experiência” no que teve de positivo e de negativo para ambos os lados ao longo dos séculos. É tempo de a virar para o futuro e construir parcerias entre iguais pela paz, pela liberdade e pelo desenvolvimento sustentável. Com Sol e Sul o mundo pode ser melhor.