Merkel Vacinada?
2015/01/31 09:22
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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A grande crise financeira que assolou o
mundo no final da primeira década deste século começou nos Estados Unidos
(EUA). Com mercados globais e fortemente interligados o efeito de contágio era
quase inevitável e a União Europeia (UE) foi das primeiras a sofrer as
consequências.
Hoje, alguns anos depois, os EUA estão
em plena recuperação enquanto a UE se continua a debater com uma forte
estagnação. Em larga medida, isto ficou-se a dever à decisão da Alemanha de aproveitar
a crise para “vacinar” os Países do Sul e em particular a Grécia contra aquilo
que na voz do seu mais fiel ajudante Pedro Passos Coelho se designa por “viverem
acima das possibilidades”.
A vacina de Merkel foi uma terapia
ineficiente e inadequada e se é verdade que gerou um profundo processo de
empobrecimento e punição em diversos países do Sul da Europa, não resolveu a
crise económica e financeira Europeia e felizmente não atemorizou nem
enfraqueceu a Democracia.
Pelo contrário, a revolta acumulada deu
origem a uma profunda recusa nas urnas do modelo de punição. Foi esse o sentido
democrático da vitória do Syriza na Grécia e essa expressão de vontade do povo
grego conduziu a uma celebração que transcendeu em muito as fronteiras da
Grécia ou e da matriz ideológica do Partido vencedor.
Falhada a vacina punitiva, a questão que
se coloca é saber se a Chanceler vai cair na tentação vingativa de tentar
aumentar a dose, caso em que fará implodir o EURO ou se pelo contrário ficou
ela própria vacinada e se alinhará com um modelo inteligente de recuperação da
confiança e do crescimento sustentável na Europa.
Em Portugal, ao recusar apoiar uma
conferência europeia sobre as dívidas Europeias o governo colocou-se mais uma
vez do lado da banca e contra as pessoas.
O novo modelo de crescimento europeu não
poderá ser a cedência a derivas radicais de sinal contrário, mas antes uma
solução negociada e robusta de reforço do papel do Banco Central Europeu na
gestão das dívidas soberanas, de aposta no investimento gerador de crescimento
sustentável e na harmonização e na transparência fiscal. Em síntese, na
confiança e na mobilização em linha com aquilo que Obama tem vindo a conseguir
nos EUA.
A vitória do Syriza deu um impulso a uma
luta de muitos europeus contra a insanidade do modelo da austeridade
regeneradora. Mereceu por isso ser celebrada. Mas o futuro da UE não passa pelo
modelo populista que o Syriza representa. Os povos europeus decidirão (os
ibéricos já este ano). A sua vontade será soberana, mas a UE precisa de ver
reforçada a linha de defesa dos seus valores fundadores. Uma linha que faz da
esquerda moderna, cosmopolita e pró-europeia a alternativa ao inverno liberal
que se vai dissipando.
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