A queda de um "Anjo"
2013/07/01 22:32
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Com uma carta tão lúcida quanto tardia,
Vitor Gaspar reconheceu finalmente a derrota do seu modelo e o fracasso da
experiência, que sob orientação do Ministro Alemão das Finanças, aplicou a 10
milhões de portugueses.
Gaspar ficará para a história. Em dois
anos conseguiu desgastar uma forte aura de “anjo” salvador, mas mesmo no
momento da saída, muitos lhe reconhecem que errou mas foi sério, que fez o que
Passos Coelho lhe pediu para fazer e que saiu quando o Primeiro-ministro teve
que escolher entre a miragem do pote com que Portas lhe continua acenar e a
debilidade das convicções próprias, sobretudo fundadas em não conhecer outro
caminho nem ter imaginação para golpes de asa que afastem Portugal da
catástrofe económica, social e financeira.
Caiu o “anjo” e Passos colocou no seu
lugar uma Secretária de Estado que parecia um pilar forte do Ministério, mas
que nas últimas semanas se revelou uma desilusão, salvando (?) a sua pele do
processo dos Contratos de Controlo de Risco (SWAPS) a qualquer preço e alegando
uma perturbante falta de memória, ela que foi uma relevante dirigente da
Secretaria de Estado do Orçamento e Tesouro do Governo Socialista até alguns
meses antes da mudança de ciclo.
Não
é a primeira vez que nestas crónicas recomendo a leitura do livro “Resgatados”
escrito por David Dinis e Hugo Coelho e editado pela “Esfera dos Livros”. Nesse
relato impressivo se poderá constatar como Maria Luís Albuquerque se passou da
equipa de Teixeira dos Santos para o séquito de Passos Coelho, fornecendo-lhe
informações preciosas para o derrube do Governo com que antes colaborara. A
verdade é que quando escrevo esta crónica Maria Luis Albuquerque continua à
tona, mas raramente pessoas com esta frieza de carácter acabam bem.
A confissão de Gaspar coloca também uma
questão importante a outro “anjo” da nossa democracia. Poderá o Presidente da
República continuar a tolerar o esboroar do Governo perante os seus olhos? Não deveria aproveitar as eleições autárquicas
de 29 de Setembro para devolver a voz ao povo e clarificar o caminho que
enquanto nação queremos prosseguir?
O “Borda de Água” já previa um verão
incerto. Quente ou frio mas nunca morno. Hoje temos a prova que assim será e
quem quiser forçar a tampa da panela de pressão pode ter desagradáveis
surpresas. Os portugueses têm um elevado ponto de “fervura” mas quando fervem
mesmo não são “anjos” nenhuns!
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