O Discurso do Presidente
2012/04/29 11:00
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Muito já se escreveu sobre o discurso de Cavaco Silva na sessão solene do 25 de Abril e nas suas motivações potenciais.
A enumeração exaustiva dos êxitos da governação da última década, mas com exemplos quase todos extraídos da acção do Governo anterior terá sido apenas uma forma expedita de insuflar ânimo nos portugueses? Terá somado a isso uma estratégia de reposicionamento no centro do espectro político? Incluirá uma forma hábil de não ter que comentar os erros políticos dum Governo que tem na sua génese um alto patrocínio Presidencial que foi para além do mero patrocínio institucional?
Todas estas e mais algumas interpretações são possíveis e ainda outras se poderiam engendrar. Para a História fica um discurso proferido com um ano de atraso, mas ainda assim um discurso de reconhecimento de um trabalho meritório incentivado pelo Governo anterior e concretizado pelos portugueses no domínio do conhecimento, da tecnologia e da inovação.
Os factos que ilustraram o discurso devem merecer a nossa reflexão pelo seu valor facial. Há uma dimensão da nossa vida política e económica recente que é controversa e merece análise distanciada. Refiro-me à forma como foi enfrentada a crise das dívidas soberanas resultante da quebra de solidariedade no seio da zona euro.
Há no entanto outra dimensão que devia servir de exemplo e não ser deitada fora como tem sido pela tendência dos Governos de começar sempre tudo de novo quando ganham o poder.
Portugal tem um problema de competitividade e de produtividade. No entanto, como mostrou o discurso do Presidente em muitos domínios e sectores Portugal foi (e nalguns casos ainda é) um país competitivo e reconhecido como liderante à escala global. Sendo assim, devem-se arrasar esses sectores de sucesso e transformar Portugal numa plataforma de baixos salários e produção de baixo valor acrescentado, como tem estado a ser feito? Esta opção é um erro crasso e o Presidente no seu discurso deixou isso bem implícito.
O que temos que fazer é posicionar cada vez mais sectores da nossa economia num patamar de sofisticação em que a localização ou o custo salarial não façam a diferença, mas em que a competição se trave pela inovação na solução e pela tecnologia incorporada.
Como escrevi antes, haverão dezenas de possíveis interpretações do Discurso Presidencial de 25 de Abril. A interpretação parcial que aqui partilho é a mais benévola. Não a mais benévola para este ou aquele Partido ou a mais benévola para o Presidente da República, mas a mais benévola para Portugal e para o nosso Futuro.
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