Quanto Custa ser Feliz ?
2016/08/17 11:56
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Um dos livros que me sugeriram para leitura este verão foi “Um guia
breve para clássicos filosóficos” de James M. Russell editado este ano em
Portugal pela Temas e Debates. O guia é mesmo breve no tratamento que faz de
cada clássico e de cada autor. Tem no entanto a vantagem de colocar em paralelo
e com o mesmo nível de síntese diferentes mundovisões, muitas delas
incompatíveis entre si.
A filosofia é tão necessária à vida consciente como os recursos
materiais básicos que nos permitem sobreviver. Não me refiro apenas à filosofia
como saber estruturado, mas também à filosofia como conjunto de ideias e de projetos
que dão identidade às escolhas de vida que cada pessoa faz.
Escolha benévola ou reprovável à luz dos valores prevalecentes na
sociedade, essa escolha é obrigatória, dando sentido à frase popular que de
facto, no sentido estrito em todos temos um quadro de perceção do mundo em que
vivemos, todos somos filósofos.
Quis o acaso das leituras soltas, que acabado de percorrer o guia antes
referido, me tenha deparado com um interessante texto de Frei Betto intitulado
“Quanto custa ser feliz? inserido num breve livro coletivo editado no Brasil
pela Vozes sob o título “Felicidade, foi-se embora?” onde se inclui o texto do
frade dominicano e textos do teólogo Leonardo Boff e do professor de Teologia
Mario Cortella.
E quanto custa ser feliz? Na minha interpretação cruzada das leituras
que aqui refiro, reforcei uma ideia que já aqui tenho partilhado. O preço de
entrada para se poder ser feliz é ter uma filosofia, ou seja, um projeto e um
sentido de vida, naturalmente flexíveis, mas estruturalmente coerentes.
Esta abordagem é muito interessante e conflui com a ideia da felicidade
como ausência de medo, que costumo usar nos meus escritos sobre o tema. Se a
felicidade é a diferença entre o sentido que definimos para a nossa vida e
aquilo que de facto conseguimos, então quem não tiver uma filosofia de vida não
é candidato a ser (se sentir) feliz.
Note-se que nesta abordagem não entra a dimensão ética. Por isso se
pode ser feliz a fazer o bem e a fazer o mal. Para a qualidade da sociedade em
que vivemos para além da filosofia também a ética é determinante.
Outra questão importante é que a felicidade não implica necessariamente
o prazer ou a alegria. É claro que felicidade, alegria e prazer são
complementares e geram boas sinergias, mas vivem uns sem os outros, sobretudo
por provêm de fontes diferentes e percorrem diferentes linhas do tempo, que se
vão cruzando e descruzando ao longo da vida e dos seus fragmentos.
Diz o povo que de “filósofos e de tolos todos temos um pouco”. Todos
não. Alguns deixaram secar o seu sentido de vida no deslumbramento do
consumismo ou no sofrimento do quotidiano e outros levam-se a si mesmos
demasiado a sério. Assim mais dificilmente se sentirão felizes.
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