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Viagem no Tempo (Sobre a Feira de S.João de Évora)




 

Chegou ao fim mais uma corrida mais uma viagem, ou seja, mais uma feira anual em Évora. Para o ano haverá mais uma Feira de S. João no Rossio e de novo lá estaremos a percorrer os mesmos percursos e espaços, que com ligeiras alterações se vão mantendo há décadas com a mesma traça, sons, cheiros, luzes, alma.

 

 Os pavilhões económicos, as barraquinhas das associações e do artesanato, a zona das farturas e dos churros com o cheiro seu marcante, as roulottes de comes e bebes, a sempre animada Horta das Laranjeiras com as múltiplas tasquinhas, os palcos e a Feira do Livro, os Pavilhões Institucionais, os restaurantes de feira com a carne sempre no assador, as noites entrecortadas de bafo alentejano e de vento cortante nos dias mais frios.

 

As feiras anuais que se realizam um pouco por todo o País, e de que a Feira de S. João é um exemplo, ainda com a traça de feira de trocas e de mostras, são hoje um ponto de encontro especial entre gentes que ficam e gentes que partem e regressam naqueles dias às suas comunidades de origem.

 

 Alguns amigos de liceu, da universidade, do futebol, das corridas e das aventuras ciclísticas, dos bailes e das festas da minha juventude, quase só os encontro, quando encontro, na feira de S. João. É sempre um encontro reconfortante.

 

 Embora muito tenha mudado em nós com a passagem do tempo, deixando marcas nos rostos, nas histórias por contar, nas famílias acrescentadas pelos que foram nascendo ou diminuídas pelos que partiram, a permanência do cenário, dá a sensação estranha de uma viagem no tempo, como se cada amigo ou amiga que encontramos nos convidasse a uma paragem breve numa estação da nossa existência e num recanto das nossas memórias.

 

Há muitos anos, (e este ano pelo que percebi, também assim aconteceu), que se discute o futuro da Feira de S. João e a necessidade de a aproximar das feiras económicas mais modernas, com pavilhões aclimatados e grandes espetáculos para atrair multidões.

 

 É claro que pavilhões confortáveis e espetáculos interessantes só farão bem à Feira de S. João e as novas gerações esperam e têm legítimo direito a outras ofertas mais adaptadas aos tempos que correm.

 

Mas para mim, que normalmente não dispenso a nostalgia de umas voltas no carrossel ou na pista dos carros de choque e uns petiscos nas tasquinhas (este ano animadas pelos écrans do nosso contentamento desportivo) é sobretudo a viagem no tempo que constitui o passear pela feira, bebericando aqui e ali uma imperial ou uma caipirinha, um branco fresquinho ou um tinto arrebatado e encontrando as pessoas que comigo têm feito a caminhada da vida, que faz da Feira de S. João de Évora um evento único.

 

 Uma prova de vida, em cada ano saboreada como se fosse a primeira vez.  

 

 

 

 

 
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