A Escola da Vida
Pela escola da vida todos passamos e aprendemos, desde o dia em que nascemos até àquele em que partimos. Houve um tempo, não muito longínquo, em que muitos portugueses se formavam apenas na escola da vida, complementada na maioria dos casos por um acesso mitigado aos conhecimentos proporcionados pela então designadaescola primária.
Nas últimas décadas, sobretudo a partir de 25 de abril de 1974, com flutuações próprias dos ciclos políticos e económicos, tem sido feito um investimento muito significativo na escola pública e nos sistemas de formação profissional. Embora ainda haja um longo caminho a percorrer, quer no acesso, quer na garantia das condições de ensino e aprendizagem, quer na adequação das matérias ou no combate ao abandono escolar, os jovens e os menos jovens têm hoje em Portugal uma oferta diversificada de oportunidades para adquirir conhecimentos e competências e os atualizar ao longo da vida.
A escola da vida, qualquer que seja a outra “escola” a que cada um de nós acede, deixa sempre marcas profundas e ajuda a esculpir a nossa identidade, o nosso caracter e a nossa forma de estar e de ser. A resposta possível da escola formal, mais ou menos presencial ou online, aberta ou confinada, vai deixar marcas profundas na geração que está a fazer o seu percurso escolar neste tempo de pandemia, porque a sua mescla com a escola da vida será neste tempo mais forte do que nunca.
Ainda é prematuro antecipar o impacto no desenvolvimento social e emocional das vivências que os nossos jovens estão a experienciar, de isolamento, de receio, de frustração, de censura na expressão dos afetos e de exacerbamento das desigualdadesnas condições de aprendizagem.
Sei que não são apenas os jovens em ciclo de formação a serem afetados pelos tempos de chumbo que atravessamos. Todos somos, e já que falo da escola, os professores são-noparticularmente. O seu trabalho na linha da frente para minimizar os impactos negativos da pandemia na formação das novas gerações deve ser mais reconhecido e valorizado.
A escola da vida mudou porque a vida mudou. A discussão legítima sobre se as escolas, ou que escolas, devem estar abertas ou encerradas é importante, mas redutora. Tem que ser incluída numa ação integrada, ambiciosa e urgente que permita que a vida e a escola protejam o melhor possível as novas gerações agora sob forte stress. Uma ação de apoio aos jovens e às famílias e aos profissionais do sistema educativo, em que a internet e os computadores para todos são um passo necessário, mas em que as palavras e a preservação dos relacionamentos não o são menos.