Altruístas ou Perdulários?
2014/09/25 13:23
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Escrevo esta
crónica em Bruxelas num dia de Outono seco, solarengo e luminoso. As notícias
que me chegam de Portugal são que o vento e a chuva têm sido a marca dos
últimos dias. A isto, de forma simplista, chama-se alteração climática e o
principal suspeito de as provocar é o aquecimento global.
Muitos
contestam esta ideia do aquecimento global alegando que no nosso País tivemos
um dos verões mais frios de sempre. Acontece que o aquecimento é um indicador
médio e o que se está a verificar é o aumento dos diferenciais que depois geram
fenómenos extremos, catástrofes naturais, destruição da costa e outros
malefícios conhecidos.
Estando
prevista a apresentação pela Comissão Europeia do novo pacote Energia/Clima
2030 para o início de Outubro, preparando a posição europeia para as
conferências internacionais que se vão seguir (Peru este ano e Paris no próximo
ano) o tema tem sido central nas discussões e nos debates que têm decorrido no
Parlamento Europeu, sobretudo nas comissões em que tenho assento e que cobrem
os temas da industria, da investigação, da energia e do ambiente entre outros.
A Comissão
europeia prevê ganhos de 40% na eficiência energética e na redução de emissões
de gases poluentes e um aumento até 27% da percentagem de energias renováveis
no pacote energético da União e de cada Estado Membro em particular. Muitos acham estes objectivos pouco
ambiciosos e outros consideram-nos escandalosamente exagerados.
Eu acredito
que estes objectivos não só combatem as alterações climáticas como podem ajudar
a relançar a economia e a tornar o ambiente mais saudável para todos nós.
Considero baixa a meta das Energias Renováveis (Portugal por exemplo já está
hoje acima dessa meta) e razoável a meta da Eficiência, que poderá dar um forte
impulso à inovação limpa e á competitividade da indústria europeia, além de
criar novos mercados no contexto da recuperação urbana e do tecido económico.
A questão das
emissões fia mais fino. Aqui as abordagens radicalizam-se. Devemos ser
altruístas e dar o exemplo independentemente do que as outras potências
económicas fizerem ou pelo contrário, como o impacto das emissões não é
localizada, devemos evitar ser perdulários e tomar decisões unilaterais que
penalizam no imediato as nossas empresas?
Na China
inauguram-se centrais a carvão a um ritmo mais que mensal. Só as emissões de
uma central deitam por terra todas as poupanças que Portugal pode fazer num ano
cumprindo as metas europeias.
Neste domínio
é preciso criar uma consciência e uma acção global. Sozinho não há quem consiga
resolver nada. Hoje faz sol em Bruxelas e chove em Portugal. Um dia poderemos
ter seca nos prados da Holanda e inundações no sequeiro alentejano. Mas a
sustentabilidade da vida como a desejamos, já a teremos destruído entretanto.
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