África somos todos nós.
Focados na pandemia, que embora cada vez menos severa. tarda em deixar-nos voltar à vida sem medos nem mascaras, vamos dando menos atenção a alguns sinais preocupantes que noutros contextos abririam telejornais e fariam tocar todas as sinetas de alarme.
Após as duas trágicas guerras mundiais do século passado, que para muitos de nós já pertencem à história, o mundo voltou a aproximar-se da linha vermelha de uma confrontação global.
A propósito da Ucrânia e das exigências da Rússia em relação aos posicionamentos da NATO voltaram a ser acionados os telefones vermelhos, que por enquanto parecem capazes de conter a guerra, mas nos deixam na contingência de um erro de comunicação ou de um ato menos refletido. Ao mesmo tempo no ciberespaço a guerra sem tréguas vai fazendo vítimas e colocando a democracia cada vez mais em perigo.
Neste contexto, o que está a suceder em muitas zonas do continente africano é também digno de registo e atenção. O continente mais jovem do globo tem progredido de forma intensa nas últimas décadas. As novas tecnologias e a formação de elites qualificadaspermitiram em muitos países do continente descobrir filões de criação de riqueza e maior bem-estar com enorme potencial.
Infelizmente, em muitos países africamos maior riqueza não tem significado melhor partilha e mais democracia, despertando antes os demónios dos golpes de estado, da erosão constitucional e da cleptocracia.
Entre 8 e 10 de fevereiro, o grupo dos Socialistas e Democratas (S&D) no ParlamentoEuropeu, que integro, realiza a semana de África, apelando nas vésperas da cimeira de alto nível União Europeia - União Africana, a uma parceria forte e de iguais entre os dois continentes, num processo de diálogo aberto, visando reduzir desigualdades, combater a pobreza extrema e promover o desenvolvimento sustentável.
Numa resolução em cuja elaboração representei o S&D, o Parlamento Europeu apelou a que a nova estratégia de cooperação Europa - África abandone o princípio dador - beneficiário e estabeleça uma relação mais profunda de convergência na educação, na saúde, no acesso aos bens essenciais e na boa governação, tendo em conta as prioridades globais da promoção da paz, da transição verde, da transição digital e das migrações inclusivas.
Num tempo de grande crispação global, uma forte relação multilateral com uma África em progresso, paz e democracia será um importante contrapeso aos riscos e às ameaças que vêm de outras latitudes. África, somos todos nós.