Buracos Negros
2014/11/09 15:13
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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Não é apenas o universo que na sua
textura tem alguns buracos negros. A União Europeia, que ao contrário de
algumas teorias sobre o universo está longe de ser una, está pejada desses
espaços aparentemente vazios mas em cuja consequência a distribuição de riqueza
é alterada e as desigualdades são fortemente acrescidas.
Países como o Luxemburgo, a Holanda, a
Irlanda e o Reino Unido têm legislações criativas que permitem às empresas
acomodar os seus lucros a taxas minimalistas de cobrança fiscal, tendo por
consequência que os cidadãos europeus são desacomodados dos seus pecúlios para
pagarem a crise e assumirem sozinhos o funcionamento do Estado.
A harmonização fiscal, ou a sua falta, é
uma das peças determinantes em falta na arquitetura europeia. Depois do que se
soube agora sobre a lavagem de lucros no Luxemburgo tem que passar a ser uma
prioridade absoluta do novo Presidente da Comissão Jean Claude Juncker.
Sejamos claros. Juncker trouxe uma nova
esperança à UE e muitos são os poderes que o gostariam de desalojar e ver pelas
costas. Mas ninguém está acima da lei.
Se Juncker compactuou com processos ilegais
tem que ser penalizado por isso. Se apenas foi cúmplice indireto de uma
imoralidade, então a prova que tem que fazer desde já é liderar o combate a
essas práticas e acabar com os buracos negros, a que também se chama eufemisticamente
paraísos fiscais, no território da União.
Alguns dos leitores perguntarão se um
homem que compactuou com práticas de lavagem imorais de lucros pode acabar com
elas.
Cito aqui Dominique Strauss-Kahn, o
ex-Presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI) que perguntado sobre o
sucesso de Mario Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu (BCE) como
regulador, afirmou que isso se devia a ele ter estado antes do lado dos
especuladores. Conhecia-lhes as técnicas e as práticas e por isso podia combatê-los
melhor.
Pois assim é também com Juncker. Sabe bem como
se contorna a equidade. Não tem desculpa para não a repor. É o caminho estreito
por onde tem que afirmar a sua liderança, sob pena de à história como mais um
meteorito engolido pelo buraco negro dos grandes interesses financeiros.
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