Dinheiro Fresco (Os migrantes e o futuro do projeto europeu)
2016/03/05 12:50
| Diário do Sul, Visto do Alentejo
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As crises na União Europeia sempre se
foram resolvendo através de ciclos de paciência e momentos de forte impulso. Para
a crise atual acabou-se o tempo da paciência. É urgente um novo ciclo de
políticas.
A cartilha oficial da austeridade e da
estabilidade macroeconómica está a conduzir a União a uma profunda
instabilidade política, a uma continuada anemia económica e a um disseminado
sentido de impotência perante os desafios provocados pelo afluxo de migrantes e
refugiados.
É precisa ação. Reforçar com pessoas e
equipamentos a fronteira externa da União para organizar o acolhimento, agir
contra as mafias e criar condições nos Países de origem para evitar o desespero
e a fuga das suas populações. Em complemento é preciso puxar pela economia
europeia para que quem chega possa ser integrado e constituir um fator de
dinamização das comunidades em que se insere.
Para fazer tudo isto é preciso dinheiro.
Aqui está a chave da questão. O “clube do pensamento único” quer tomou conta da
Europa só encontra dinheiro para tapar os buracos financeiros, nunca o descortinando para ajudar a resolver os problemas das
pessoas e das empresas, a minorar o desemprego ou para dar uma nova vitalidade
à economia europeia.
Chegou
o momento em que é preciso pôr dinheiro fresco na solução sob pena do projeto
europeu ter um grave problema de subsistência.
A
Alemanha tem razão ao pedir a solidariedade dos outros Países da União no
acolhimento de migrantes e refugiados. A Grécia e a Itália não podem continuar
a aguentar sozinhas a brutal pressão das levas de refugiados que têm acolhido.
Todos os países têm que colaborar e a disponibilidade de Portugal para duplicar
a sua quota de acolhimento para 10 000 refugiados é um bom exemplo.
Muitos dos Países têm, no entanto, um
problema a resolver. A prazo os migrantes poderão ser um fator de crescimento e
desenvolvimento económico, mas no curto prazo o seu acolhimento implica a
afetação de recursos que não existem ou não podem ser mobilizados devido às
regras orçamentais da União.
É preciso por isso ousar, lançando um
empréstimo obrigacionista com garantia europeia (Eurobonds) para financiar o
reforço da fronteira externa da união e o acolhimento e integração dos
refugiados e dos migrantes.
Este movimento não apenas ajudará a
desbloquear a procura interna como estabelecerá um princípio de justiça em relação
aos Países mais abertos e solidários, e poderá fazer dos refugiados e dos
migrantes, os mobilizadores de uma solução para a Europa e não como muitos
temem e alguns desejam, os seus coveiros.
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