Empatia
O uso de máscaras de proteção sanitária está cada vez mais generalizado nos espaços públicos. Sobre esse tema têm ocorrido diversos debates em Portugal e no mundo, quer quanto ao nível de eficácia da prática, quer quando à eventual intromissão no espaço das liberdades individuais que pode significar.
Pela minha parte uso máscara sempre que é recomendada pelas autoridades de saúdeou imposta pelas autoridades administrativas. Neste tema, como em quase todos os que se relacionam com o controlo sanitário da pandemia, existem opiniões e estudos para todos os gostos. Seguir as recomendações das autoridades de saúde e as normas definidas por quem tem que gerir o impacto do vírus, é a atitude cidadã adequada.
Neste texto abordo a questão da mascara não pelo seu efeito sanitário, mas pelo impactona comunicação entre as pessoas. O uso generalizado de máscara tornou-se um forte inibidor de empatia, que se junta a outros como a prática do distanciamento social.
Comunicar em proximidade é um misto de conteúdo, de voz e de expressão. A minha experiência, em trabalho ou em convívio, faz-me sentir que o bloqueio parcial da expressão e a distorção da voz tem um forte impacto nos conteúdos efetivos da comunicação.
Podemos e devemos valorizar a comunicação online. A comunicação mesmo intermediada pelo distanciamento e a ocultação parcial do rosto é sempre comunicação. Mas são ambas formas de comunicação que não valorizam a empatia, que normalizam, consolidam standards e protocolos, fomentam comportamentos mecânicos e quebram a espontaneidade.
É normal que a questão da comunicação interpessoal não seja uma preocupação de primeira linha, tendo em conta os domínios que a pandemia interseta exigindo respostas urgentes. Antevejo, contudo, que o impacto da quebra da empatia na sociedade,durante ou em consequência da pandemia, merecerá ainda muitos estudos e avaliações sérias.
Uso apenas um exemplo para ilustrar a mensagem que procuro comunicar neste texto sem máscara. No campo político e diplomático é amplamente reconhecido que os portugueses são hábeis negociadores. Assim sobrevivemos quase um milénio. Esta capacidade deve-se a uma cultura própria, a uma história rica, a uma capacidade transmitida entre gerações, mas que em última análise se traduz em empatia como arma negocial.
Teremos que ser rápidos em adaptar a nossa empatia aos novos contextos, contribuindo com ela para que o mais depressa possível a possamos voltar a praticar sem máscara, vencida que seja a pandemia.