Pão, balas e flores
No mesmo dia em que pela manhã, enquanto relator permanente do Parlamento Europeu (PE) para a ajuda humanitária apresentei em Comissão o meu relatório sobre a estratégia para fazer face ao aumento exponencial de pessoas em situação de emergência, ao agravamento do diferencial entre os recursos necessários e os recursos disponíveis e à degradação das condições para a intervenção dos agentes no terreno, dando particular destaque à resposta a crises que por não serem mediáticas se tornam crises esquecidas, negociei pela noite dentro, em representação do meu grupo político, o acordo interinstitucional para apoiar a indústria de defesa europeia em 500 milhões de euros, visando produzir munições para apoiar os esforços de defesa da Ucrânia contra a invasão de que foi vítima.
Pela minha natureza e pela natureza das minhas funções no PE, como membro das Comissões de Indústria, Investigação e Energia e de Desenvolvimento e Presidente da Delegação à Assembleia Parlamentar Paritária África, Caraíbas e Pacífico, intervenho regularmente num largo espectro de temáticas. Tenho um gosto especial pelas abordagens holísticas articuladas com as soluções de proximidade. Contudo, tratar no mesmo dia de ajuda humanitária e de munições não deixou de ser um desafio especial e sobre o qual partilho algumas reflexões neste texto.
Há um triplo nexo entre a ajuda humanitária, a paz e o desenvolvimento sustentável.Como humanista repugna-me a ideia de milhões de pessoas dependerem da boa vontade de outros milhões para terem direito a uma vida digna. Mas dependem! Neste momento são quase 400 milhões a precisarem de ajuda de emergência para sobreviver. Mais me repugna que a liberdade e a soberania tenham que ser defendidas no campo de batalha. Mas têm, como a invasão da Ucrânia comprova.
Num mundo ideal os povos ajudar-se-iam mutuamente para que todos pudessem viver melhor. No mundo real aqueles que mais podem, devem ajudar quem está em estado de necessidade, respondendo às emergências e ajudando a criar resiliência. Num mundo ideal os povos trocariam flores para celebrar a vida. No mundo real é preciso pão e balas para defender os valores universais.
O pão é melhor do que a pólvora, a educação é melhor do que o canhão, a realização é melhor do que o míssil. Disso não tenho dúvidas. Dediquei a minha vida a representar a liberdade e a lutar por ela. Se me perguntarem o que levo na mochila, direi como dizem que disse a Rainha Santa. São rosas! São todas as flores do mundo.